Está escrito na redação nota mil: o futuro é da mulher nordestina

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O futuro é mulher. Pego aqui o título de um velho filme do diretor italiano Marco Ferreri para nossa conversa na calçada. O futuro é mulher — e mulher nordestina. Digo isso diante de uma manchete que mexe com a gente: oito alunas do Brasil alcançaram nota 1000 na redação do Enem; seis moram em estados do Nordeste.

Não há o menor corte separatista nesse contentamento, isso é bobagem. Destaco sempre os bons resultados escolares da região para quebrar preconceitos ainda presentes no Sul e Sudeste. E a educação, o Ceará que o diga, tem sido a melhor resposta. Resposta que vem lá de São Benedito, na escrita de Letícia Marques de Abreu, estudante de escola pública estadual com pontuação máxima no exame nacional do ensino médio.

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O noticiário mostrou outros exemplos de Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e da Bahia. A nota da redação é só mais um capítulo em uma tendência importantíssima que tem se firmado nos últimos anos. É na sala de aula que o Nordeste quebra a imagem equivocada e caricata de terra dos grotões e das ignorâncias.

Mais interessante ainda é que a resposta venha da escrita das mulheres. Elas estão lendo mais que os homens, como revelam as pesquisas. Elas defendem de forma mais organizada suas ideias. O futuro é delas.

Livro da semana

Não há como tratar da imagem da região sem indicar, para brasileiros de todos os lugares do país, “A Invenção do Nordeste e Outras Artes” (Cortez Editora), obra-prima do professor Durval Muniz de Albuquerque Jr., meu colega de coluna neste jornal. Ele mostra como foi formada, ao longo da história, a ideia que se tem do mundo nordestino.

Entendemos, na leitura, sobre a importância de Luiz Gonzaga e do cinema-cangaceiro, por exemplo, na construção desse imaginário. O livro é como se Durval dialogasse com Belchior, o rapaz latino-americano de Sobral que um dia nos deixou a seguinte provocação em forma de música: “Ninguém é gente!/ Nordeste é uma ficção!/ Nordeste nunca houve!”.

Ciente da confusão que fazem ao tratar das nossas contradições regionais e universais, o próprio Belchior assinalava: “Não! Eu não sou do lugar dos esquecidos!/ Não sou da nação dos condenados!/ Não sou do sertão dos ofendidos!/ Você sabe bem: Conheço o meu lugar!”.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.



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