É o novo! Centrão e Bolsonaro religam a “indústria da seca”

Legenda: Transposição do Rio São Francisco
Foto: Nilton Alves

A expressão “indústria da seca” é uma velha conhecida no dicionário das perversidades brasileiras. O pioneiro a registrá-la no papel foi Antônio Callado, escritor nascido em Niterói (RJ), autor de “Os industriais da seca e os Galileus de Pernambuco”, livro de 1960. Reportagem de Julia Affonso e André Shalders revelou esta semana como este mecanismo — o uso da estiagem nordestina para proveito político e financeiro — está de volta.

“Esquema dos poços: Governo Bolsonaro gasta R$ 1,2 bi para fazer perfurações e não entrega água no Nordeste”. Esta foi a manchete do jornal “O Estado de S. Paulo” sobre as irregularidades. O resultado é um cemitério de buracos, sem obra concluída, nos domínios da política do Centrão, sob o comando de Ciro Nogueira (do partido Progressistas do Piauí), ministro da Casa Civil.

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Em discurso de campanha eleitoral, o presidente exaltou as “realizações” que ficaram pela metade e deixaram um rastro de suspeita nos seus contratos. “Água em grande parte do Nordeste é uma realidade. Também o nosso Exército, com a Codevasf, fura dezenas de poços todos os meses, levando dignidade a essas pessoas. Eu estou mostrando o que nós fizemos, o que pretendemos seguir fazendo”, disse o candidato à reeleição.

A “indústria da seca” de Bolsonaro e amigos do Centrão ignorou a eficiente política das cisternas, um projeto que se mantém vivo graças a campanhas de arrecadação da Asa, a Articulação Semiárido Brasileiro, uma organização não-governamental. Nem mesmo os 5% de toda a obra da transposição do rio São Francisco a gestão bolsonarista vai concluir. O edital de licitação para o trecho do Ramal do Salgado foi alvo de cancelamento.

Esse falso xodó com o Nordeste — repetido em visitas eleitoreiras e intimidade forçada por falas preconceituosas — deixou como legado apenas a suspeita de corrupção braba no fundo do poço. Poço sem água, o que deixa tudo ainda mais trágico. Ficou apenas o eco sem graça da pilhéria que o presidente insistiu em fazer com os “cabeças chatas”. Agora só nos resta ironizar no melhor estilo cearense: É o novo!

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.

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