Com que roupa eu vou? O que sempre foi apenas uma dúvida saudável para o dia da festa da Democracia, virou um drama diante da violência na campanha eleitoral deste ano. Segundo pesquisa Datafolha, 40% acreditam na possibilidade de agressões pesadas no dia 02 de outubro. O mais doloroso: 9% dos brasileiros e brasileiras admitem não votar por causa do medo.
Não se trata de nenhuma paranóia delirante. Tivemos duas mortes de eleitores petistas, duelos de rua e até tiros tiros em prédios enfeitados com bandeiras de Lula -- como aconteceu esta semana no bairro de Casa Amarela, no Recife. Os exemplos de rua são pesados. Olhe que nem cito os bate-bocas, agressões verbais em bares e as constantes ameças de morte nas redes sociais.
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Com que roupa eu vou? O que antes era apenas uma dúvida tirada na leveza e no assobio da música de Noel Rosa, virou questão de vida ou morte. Vestir a cor da sua preferência se tornou quase probido diante do cenário bélico. É muita gente armada e disposta a cometer desgraceiras em nome de um fundamentalismo partidário.
Desde que voltamos a eleger presidentes, em 1989, nunca a situação foi tão assombrosa. Em várias disputas acirradas entre PSDB e PT nunca tivemos que deixar de usar uma camiseta azul ou vermelha. As pessoas se produziam, na estica mesmo, para exercer o sagrado direito ao voto. Uma boniteza.
Era dia também de usar roupa nova, sair na beca, nas cidades do interior e nos subúrbios. Lembro dos meus parentes aguardando a Rural para levá-los à sede do município, em Santana do Cariri ou Nova Olinda. Vestimenta igual só mesmo em farras de casamento.
Triste que a gente não possa esnobar no estilo. O importante, porém, é não deixar de exercer o direito ao voto. Boto fé nas providências do TSE para amenizar o perigo. Proibir o porte de armas nas seções eleitorais é uma medida providencial. Estuda-se também o fechamento dos clubes de tiro no dia do pleito. São bons acenos contra a brutalidade.
O importante é que a gente não desperdice o voto. Nem que seja com aquela camiseta velha, puída, cor de burro-quando-foge, na manha da neutralidade cromática absoluta.
Em grupo, com uma certa proteção coletiva, você pode liberar um pouco mais o lado fashion do engajamento. Importante é estudar melhor cada área -- nas cidades do Nordeste sinto que a barra está bem menos pesada do que no Rio e São Paulo, por exemplo.
Com que roupa eu vou? Bonito, a essa altura do perigo, é se livrar o mais rápido possível do clima de terror instalado no país. Se for, vá na paz, como diz aquela placa indicativa de Bacurau, a cidade fictícia do grande filme de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. Bacurau, aliás, é uma aula sobre violência social e política. Recomendo mais uma vez.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.