Bonito pra chover, Patativa no céu molhou os pés

Escrito por
Xico Sá producaodiario@svm.com.br
Foto: Theyse Viana

Tá bonito pra chover e o WhatsApp de matutos como eu, preste atenção, está um aguaceiro só.

“Sangrou o açude de Assaré, Patativa no céu molhou os pés”, conta o amigo Francisco de Assis Silva, o Fransquim, que me manda também as imagens da chuvarada no sítio dos Patos e no Escondido, nas bandas de Potengi.

Veja também

Fransquim, conhecido como “caçador de cearense” — por causa da sua capacidade de localizar e reunir os conterrâneos em São Paulo —, sabe como ninguém o valor de um bom inverno.

Convivi com este amigo de infâncias por secas medonhas, estiagens brabas, sertãozão sem governo, sem adjutório, sem ajuda. Só o umbuzeiro como sustança e socorro das necessidades.

Tá bonito pra chover, no Cariri e nos Inhamuns. E nos grupos de conversa dos matutos só interessa um assunto, mesmo a mil léguas tiranas das suas terras. “Choveu lá pra nós?”, perguntam os garçons de Reriutaba uns aos outros, quase em uníssono, em pleno Rio de Janeiro, nos bares do Baixo Gávea.

E haja riacho troando nos vídeos dos celulares, meninas e meninos debaixo das bicas dos armazéns, vaqueiro tangendo o gado de moto enquanto a enchente não vem...

Os gritos e vivas que chegam da nação semiárida inundam de alegria as “casas do norte”, bares, botecos, restaurantes, mercados públicos aqui também de São Paulo. Onde tiver um matuto, do interior de qualquer parte do Nordeste, tem uma imagem de chuva sendo compartilhada a essa hora.

O rapaz do interior, por mais deslocado ou entregue à modernidade, fica comovido com as chuvosas notícias de janeiro. Esteja ele em uma capital brasileira ou em Marte.

Ah, o olho mareja. A gente esquece toda frescura nova que aprendeu pelos caminhos — e retorna, no catabio de um teletransporte, para aquele banco de madeira na frente de casa onde esperou e esperou por chuvas que nunca chegaram.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.

Assuntos Relacionados