Se depender do árbitro francês Jérôme Brissard, o drible, a mais bela expressão de arte do futebol, será punido, por ser considerado um ato de menosprezo ao adversário.
É o que se deduz, depois do cartão amarelo imposto por Brissard à Neymar, pela aplicação de uma “lambreta” do craque no seu marcador em jogo do PSG.
O drible resulta de uma sincronia da ginga de corpo com os pés. O driblador é um fingidor: faz que vai perder a bola para o adversário e a recolhe, no instante exato.
Diferente, a finta é o drible de corpo sem a bola. O drible e a finta são recursos técnicos bem brasileiros, e vêm de um aprendizado da garotada nas calçadas e campinhos esburacados. Uma memória corporal.
Diante de esquemas fechados e espaços defensivos diminuídos, aprendemos que o drible é inseparável da arte de jogar futebol.
Por falar nisso, no Brasil, terra de Garrincha, o drible anda escasso. O diabo é que o mundo, cheio de idiotas da objetividade, pode passar a enxergar o drible como um insulto e não como um enfeite necessário ao oficio de jogar.
O que Neymar devia entender, mesmo que reconheçamos a ojeriza de um árbitro pela beleza estética do futebol, é que o uso do drible se dá para afirmar talento e ganhar terreno, e não para humilhar.
Pelé, o maior de todos, só usava o drible para ganhar território. E cá prá nós, Neymar, aqui e ali, perde as medidas desse recurso, assim como nas suas excentricidades causadoras de ressentimentos do povo sisudo da vetusta Europa.
Seu novo corte de cabelo, no estilo “crina de cavalo”, com cores berrantes, sua vida festeira e outras atitudes pouco convencionais, incomodam além da conta, por serem entendidas como incompatíveis com a vida de atleta. Mas, se Neymar se sente feliz assim, a vida é dele e tem todo direito de usufruí-la como bem entender.
Voltando à questão do cartão tomado por Neymar, é como se estivéssemos à beira de uma “maldição do drible”, não por incômodo de quem é driblado, e sim para atender pruridos de quem está com um apito na boca.
Nos últimos tempos, com a evolução da prancheta, o drible perdeu terreno para o passe num futebol de geometria com suor.
Analistas conservadores acham que isso reduziu o brilho individual e imprevisibilidade do jogo.
Cabe lembrar, no entanto, que no auge do tic-tac do Barcelona de Guardiola, quando em 773 passes a taxa de sucesso era de 89% , Leonel Messi, com suas arrancadas e dribles, era quem dava o acabamento final nas grandes vitórias.
Não se sabia para qual lado Messi ia driblar. O cineasta italiano Pier Paolo Passolini, num ensaio logo após a Copa do Mundo de 70, definiu o futebol europeu como prosa e o futebol da América do Sul como poesia.
Nossa preferência é pela poesia chapliniana do drible.