O homem é o nada, antes de nascer, e o nada que se segue, após a sua morte.
Teses sustentadas como essa nos fazem meditar, com um pouco de angústia, sobre a nossa existência no último terço de campo que nos resta.
Ao refletir sobre o absurdo da vida, o que fazer, senão seguir em frente, fingindo um sentido para tudo que nos rodeia?
O que passou não pode ser modificado. Portanto, passemos a boiada, priorizando a fruição.
Até aqui, quase tudo tem dado certo, mas é preciso ficar atento e forte para não morrer na praia ou entregar o jogo no terceiro tempo.
Mas, sabem, no critério de pontos corridos, adotado para o campeonato da vida, me ocorre um fato (uma receita) que funciona como uma garantia de equilíbrio para o cumprimento de tabela: viver com pouco e não ser subjugado pela força totalitária do dinheiro.
Acreditamos que a felicidade é que traz o dinheiro.
Como ensinou, em seus sermões, o Padre Antonio Vieira (o português): “Quem quer mais do que lhe convém, perde o que quer e o que tem”.
Confesso que sempre tive preguiça de ficar rico, o que é considerado, por quem detém um dinheirinho a mais, como um grande defeito: a falta de ambição.
Nunca me considerei defeituoso por isso e minha caminhada foi um treinamento contínuo para viver com o essencial. Mesmo porque as nossas deficiências não nos definem, elas fazem parte de nós.
Os desejos monetários foram sempre sendo substituídos por outros alimentos.
Ficar à mesa com os amigos (a mesa é a ribalta da amizade), lugar onde revelamos tudo aquilo que transita entre o coração e a alma, manter a família por perto e trabalhar pouco.
Adoro não ter o que fazer, mas não imagino, daqui por diante, viver como na Grécia antiga, onde poucos trabalhavam e muitos se dedicavam à leitura e à poesia.
Não é isso.
Quero ir, aos poucos, deixando os espaços no proscênio, para os que chegam, e flanar pela cidade, descobrindo a alma encantadora das ruas, como um João do Rio.
Não é desejar muito.