Há quem ache o passeio do pensamento sobre as ilusões uma perda de tempo. E um erro, por se lidar com o impalpável, que a nada conduz.
Como um erro?
Erro é atacar a Rússia no inverno.
O homem sem ilusão e algumas ideias fixas torna-se um poço de depressões.
Meu pensamento voa para o tempo em que passamos a ter maior consciência de nós e das coisas que nos rodeavam.
Nesse período, tínhamos a ilusão de que o Cariri era um microcosmo, onde tudo que precisávamos estava ao alcance da mão.
Um instante depois, com a chegada do rádio, do cinema e das noticias das terras civilizadas, a capital Fortaleza, materializou-se um sonho que imaginávamos irrealizável.
Conhecer o Rio de Janeiro que, hoje, se equilibra entre a euforia e o medo, mas, na época, era um lugar onde tudo acontecia (e acontece) no campo da arte e da cultura.
A vetusta Europa, com tudo de cinematográfico, a povoar nossos sonhos e pensamentos.
Realidades fantasiadas de ilusão, mesmo que por alguns momentos.
Por que não?
Entre a vida real e a idealizada, há as decepções de praxe, porque nem tudo é somente bom na nossa existência.
Essa nossa narrativa nos remete à história de uma vovó, que acompanhou tudo que aconteceu no Brasil na maior parte do século passado.
A televisão era sua parceira inseparável.
Com olhos grudados na tela, acompanhava, rigorosamente, todas as novelas e suas extensas tramas e enredos.
Um dia, um neto jornalista quis lhe presentear levando-a aos estúdios da televisão para que ela assistisse, ao vivo, a gravação de novelas.
Ela recusou, por concluir que o único efeito que isso poderia causar seria o de destruir o prazer da ilusão, da magia.
Bem sabemos que não é de bom tom ignorar a realidade.
Mas, sabemos, também, que contemplar a ilusão fantasiada de realidade faz bem à alma e não deixa de ser saudável.
Sem adeus às ilusões.