Quando bate o arrependimento

Confira crônica do comentarista Wilton Bezerra

Foto: AFP

Olhar para trás é um perigo. Orfeu fez essa besteira e Eurídice virou uma estátua de sal.

Mas, sabem, pivetes, tem hora que teimo em olhar para os 72 anos nos lombos e bate um arrependimento por coisas que deixei de fazer.

Lembrando “Epitáfio”, dos Titãs, e “Instantes”, poema de de Jorge Luiz Borges, bem que eu poderia ter me esforçado mais, dormido menos, lido mais, trabalhado mais no sentido de conhecer essa coisa complexa que é o gênero humano.

Para quê, mesmo?

Ora, para usar o conhecimento e aplicá-lo nos meus comentários esportivos, agindo como uma atalaia.

Chega às minhas mãos, um artigo sobre Transtorno Histriônico, que focaliza a pessoa que precisa ser vista e faz de tudo para ser o centro das atenções.

Isso o tempo todo, sem limites, fazendo tudo para atrair os olhares para si, geralmente, produzindo desarmonia com os outros.

O que isso tem a ver com o futebol? Podem indagar.

Tem muito. Querem ver ligeiros exemplos?

Na casa do saudoso historiador Airton Fontenele, o grande Nilton Santos me falou que Heleno de Freitas, ídolo do futebol nos anos 40, era insuportável no relacionamento.

Vale lembrar para as novas gerações que Heleno era um jovem de elite, bonitão, indisciplinado, morador da zona sul carioca, formado em advocacia e frequentava os salões refinados do Copacabana Palace.

Se lembram da frase de Maradona (que não era um cara fácil) que destaquei na minha crônica passada: “Eu necessito que me necessitem”?

Só para ficar nesses dois exemplos (são inúmeros no futebol) de transtorno histriônico, vale ressaltar o outro lado do problema.

Para esses casos de cura difícil (exigem tratamento fisioterápico) existem no futebol os antídotos: as leis do jogo (quem discordar delas está fora da disputa) e os esquema táticos, tão amaldiçoados no futebol, acusados de complicar o mais simples.

Valho-me de uma coluna do gênio Tostão para atestar que os sistemas táticos, segundo o “mineirinho de ouro”, são importantes para organizar as equipes e controlar as ambições individuais dos jogadores.

Um freio, um controle dos instintos, uma barreira à compulsão individual histriônica.

Claro, que essa abordagem não encerra o assunto, mas serve para mostrar que o futebol fala mais sobre a miserável condição humana do que muitos livros.

E para falar com aprumo do tema, que o escriba se esforce mais, leia mais, fique mais curioso e não perca muito tempo tomando banho, como disse Antonio Maria.



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