O estranho mundo dos ídolos

A idolatria em torno em torno de uma celebridade se dá por vários motivos. E, aí, é que a mora a dificuldade para a nossa compreensão.

Elevado à categoria de herói de uma nação, me parece estranho que suas qualidades e virtudes no que faz, não sejam suficientes para uma comoção espantosa, como se viu em torno da morte de Maradona.

Existem outras coisas que nos causam estranhamento.

Com Pelé, no Brasil, seria a mesma coisa?

Tenho as minhas dúvidas, pois na Argentina, como disse o poeta Carpinejar, seu povo sabe homenagear os seus heróis, sabe fazer um morto se sentir importante.

Vejam o caso de Garrincha, a alegria do povo. Quando faleceu, foram feitas reportagens, documentários sobre a sua poesia trágica, a dissipação pelo álcool, atitudes não profissionais e a vida difícil que levou.

Entanto, nada se observou de extraordinário em matéria de comoção e, acho, sem o alarde que o seu desaparecimento deveria provocar.

E olha que, a vida de um herói é mais comovente pelo seu fracasso, na visão de escritores, historiadores e cineastas, sabedores de que o povo sente a dor do nosso semelhante e que a solidariedade será absoluta.

Mané morreu pobre, em uma época que o futebol não pagava as quantias obscenas dos dias de hoje.

Lidava mal com dinheiro e outras responsabilidades de um atleta.

No caso de Pelé, é preciso levar em consideração que o rei do futebol, à despeito de alguma “bola fora”, é uma antítese do gênio argentino.

Pelé sempre foi anódino, preferindo posições seguras, declarações que não ofenderam ninguém, um atleta na verdadeira acepção da palavra e exemplo para o Mundo todo.

E é exatamente por isso que se torna menos palatável para a figura do herói comovente, como um Maradona trágico, falastrão, largadão, irresponsável, viciado em drogas. Exatamente, vejam o paradoxo, como muitos gostariam de ser.

Só pode ser isso (nos meus parcos entendimentos) para explicar tamanha veneração por quem fez tudo na contramão dos bons costumes.

Vá entender os sentimentos do ser humano.

Fato é que, sem ídolos mansos ou irascíveis como Garrincha, Sócrates e Maradona, o futebol perde muito de sua graça.



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