O dia em que conheci o Maracanã

Foto: Arquivo Pessoal

Acontece o seguinte: em minha infância, no Crato, lá pelos meus 11 anos de idade, era fissurado em futebol. Acompanhava o campeonato carioca pelas emissoras do Rio, principalmente, a Globo, da dupla Valdir Amaral e Rui Porto.

Nesse tempo, nós tínhamos como base de informação o rádio, os jornais O Globo e Última Hora, que só chegavam ao Crato pela Real Aerovias, às segundas-feiras, e o cinejornal Atualidades Atlântida, antes de começar o filme em cartaz. Ah, sim: os cines eram o Moderno e o Cassino.

Os momentos de futebol no cinema eram resumidos a três minutos de duração, mas o suficiente para a gente ver Dida, Gerson, Babá, Garrincha, Nilton Santos, Belini, Sabará e outros, tocando a bola.

A Revista do Esporte, de circulação nacional, só chegava às livrarias com dois a três meses de atraso.

Na minha meninice, achava o Rio de Janeiro um lugar inalcançável e internalizei, por isso, o sentimento de que assistir um jogo do Maracanã era uma impossibilidade na vida.

O tempo passou e, em 1976, já profissional do rádio esportivo, em Juazeiro do Norte, numa conversa com o meu compadre José Afonso de Oliveira, profissional da rede bancária, soube que ele viajaria para o Rio de Janeiro, numa sexta-feira, antecedendo a decisão da Taça Guanabara, entre Vasco e Flamengo, no domingo.

Disse para ele do meu sonho de conhecer o maior estádio do Mundo e, imediatamente, José Afonso mandou que eu arrumasse as malas para começar a viagem rumo ao Rio, num avião Bandeirantes, de Juazeiro para Salvador, e de lá para a cidade maravilhosa, pela extinta companhia Varig.

Fiquei sem acreditar, imaginei que o compadre estava de brincadeira. Mas, felizmente, foi tudo verdade.

Chegando à cidade maravilhosa, encantado com Copacabana, como o “Zé Matuto que foi à praia”, meu pensamento estava totalmente voltado para o estádio, onde cabiam 200 mil torcedores.

Depois de um trajeto demorado, com o Rio fervendo em torno do “Clássico dos Milhões”, chegamos ao Maracanã e, ao vê-lo lotado, não contive a emoção; fiquei deslumbrado.

Foi uma epifania, uma visão do paraíso; de um tamanho muito maior do que eu imaginava, quando criança. Como sabem, a mente de uma criança não respeita medidas exatas.

O meu Flamengo foi derrotado pelo Vasco, decisão em penalidades, última cobrança de Luiz Augusto, jogador da base, que entrou durante o jogo.

Nem o resultado me entristeceu. Estava o comentarista impregnado de encantamento com o templo do futebol.

Quem completa 70 anos, hoje, é esse Maracanã verdadeiro do qual falei nesta crônica, estupidamente assassinado e reduzido a um não lugar.

Um crime perpetrado contra um dos mais fortes símbolos do Brasil.

Num país desmemoriado, é assim.

P.S.: A foto, acima, foi batida no ano de 1985, quando levei a minha esposa Araci e os mais novos, Márcio e Marcel, para conhecer o Maracanã. O jogo era entre Flamengo e Ceará.



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