O destino da bola na hora do sufoco

O aforismo de Neném Prancha, roupeiro, olheiro, massagista, famoso e folclórico treinador de times de praia do Rio de Janeiro, cai como uma luva em assunto que passaremos a focalizar:

“Jogar a bola pra cima. Enquanto ela estiver no alto não há perigo de gol”

Como se sabe, ficou decretada a morte do chutão, da ligação direta, do passe telegrafado e da bola rifada.

Ocorre que, à luz da realidade, essas “deformidades” são assistidas no dia a dia do futebol brasileiro por uma razão muito simples: a falta de qualidade do jogador.

As bolas são rifadas, o chutão não morreu e a ligação direta é o “pau que rola”, muitas vezes camuflada de lançamento longo e inversão de jogada. Gostaríamos de focalizar mais a questão do chutão, sinônimo maior de falta de categoria dos zagueiros, de quem se exige hoje em dia acúmulo de tarefas.

O treinador Jorge Jesus, ex-Flamengo, foi quem de um momento para o outro mostrou que o nosso futebol podia retornar as suas matrizes de ofensividade com boa dose de estratégia.

Pois bem. Soube-se que nos treinos o português tinha como preocupação primeira o sistema de defesa, de onde tinha que sair o passe.

Nada de novo dentro do que se exige atualmente do goleiro ao ala esquerdo: tem de construir as jogadas mesmo sob pressão adversária, insistir na troca de passes em espaços curtos, evitar um chutão para se livrar da bola.

Ora, tudo isso é plausível, mas a aplicação rígida desse movimento de jogo pode trazer complicações muito sérias.

Sair jogando, iniciar a sequência de troca de passes a partir da defesa é função que exige habilidade e equilíbrio.

Ao tentar demonstrar categoria e segurança, muitos zagueiros se complicam diante da pressão adversária, perdem a bola e se recusam a dar um chutão no momento crucial.

É como se tivessem pruridos por se agarrar a uma atitude pouco estética, ou por receio de “sanções” de toda ordem a partir da perda de prestígio como zagueiro moderno.

Escolham entre equívoco ou besteira muita.

Tem razão o Neném Prancha ao recomendar o chutão para qualquer lado, na hora do sufoco.

“Bola pro mato que é jogo de campeonato” continua valendo sim, e ninguém deve ter vergonha de admitir.

"É melhor escapar fedendo do que morrer cheiroso", diz o dito popular.



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