A ignorância deve ser mesmo a mãe da felicidade.
Quando imberbes, fazíamos ideia de um mundo sem tantas complicações.
Pela ordem, pensávamos ser, no futuro, jogador de futebol ou sanfoneiro.
O amor pelo futebol surgiu por meio do rádio, durante a Copa do Mundo de 1958, embora o bom de bola da família fosse Ítalo, irmão mais velho.
Já com relação à sanfona meu pai, “seu” Martins, era fissurado no forró e costumava promover “recitais” de sanfoneiros em nossa casa quando residimos em Patos, na Paraiba.
O som da sanfona, ainda hoje, me fascina.
Dois problemas para concretização dos nossos projetos: saúde precária para jogar futebol (era franzino demais) e, na impossibilidade de aprender a tocar qualquer instrumento, me virava mal no triângulo.
Falta de aptidão para as duas sonhadas carreiras, mas continuava despreocupado com o futuro.
Ocupava o tempo com as mesmas brincadeiras, com os mesmos amigos. Como estudante, um relapso chegado a um “decoreba”.
Como a sala de aula me oprimia, parei de frequentar a escola. Com o ginasial incompleto, não parei de ler o que me chegava às mãos: “O Cruzeiro”, revistas do Rádio e do Esporte, jornais Última Hora e O Globo, trazidos ao Crato, na década de 60, pela Real Aerovias. Tudo era vendido no café Líder, de seu Orestes.
Ouvia rádio, muito rádio.
Disseram que eu era um autoditada, coisa que só fui compreender mais tarde, através de Mário Quintana: “Autodidata é o ignorante por conta própria”.
Quem confirmou que no futuro não seríamos um desocupado foi o rádio, onde o “autodidata” fez de tudo, até se fixar como comentarista, numa observação da sentença de Shakespeare: “Ninguém conseguirá se aperfeiçoar o suficiente se não tiver o mundo como mestre”.
Como não desejo mais do que possuo, estou satisfeito.
Acho até que fui longe demais.
Foi isso.