Pois é. Hugo Souza, o Neneca, quis mostrar que também tem gelo no sangue para sair driblando os adversários quando apertado na saída de bola.
Tomaram-lhe o brinquedo, e o Flamengo amargou uma derrota na estréia de Rogério Ceni, exatamente contra o São Paulo a quem não consegue vencer.
Como sabem os senhores, goleiro que não usa os pés como jogadores dos demais setores de uma equipe está com os dias contados no futebol brasileiro.
Basta ver dois exemplos recentes: Wanderlei, goleiro do Santos, quando da chegada de Sampaoli ao time peixeiro, solicitou a contratação de Éverson.
E Boeck, do Fortaleza, praticamente “encostado” por Rogério Ceni em favor de Felipe Alves, “o homem de gelo”.
Mais do que habilidade, o goleiro tem que ser frio (de preferência gelado) submetido, se possível, a uma temporada no pólo norte ao lado dos esquimós.
Trocar passes com os zagueiros numa distância tênue para a meta exige dos goleiros (e dos zagueiros, por que não?) o chamado “sangue frio”.
Hoje em dia tem que ser necessariamente “homem de gelo”.
Interessante é que atrasar a bola não só para o goleiro mas também para o setor de defesa era uma atitude de time covarde, ato cuja punição se dava através de estrondosas vaias.
Quando as seleções europeias enfrentavam a nossa seleção, no Brasil, dada a superioridade que exercíamos, eram obrigadas a se fechar na defesa e repetir várias vezes a jogada de bola recuada.
Nelson Rodrigues, ao criticar o viralatismo de nossa imprensa em apreciar mais o que é de fora, ironizava: “A cada bola atrasada para o goleiro do time visitante, nossos narradores repetiam ‘como atrasam bem’”!
Nada contra o goleiro jogar com os pés. Tudo contra os exageros e exibicionismos somente com o fito de seguir uma tendência imposta pelo modismo.
Na nossa infância, tempos do futebol com a bola de meia, a posição de goleiro era reservada a quem não tinha habilidades para ”jogar na linha”.
Quem saísse da meta (duas chinelas japonesas) tentando driblar todo mundo e tomasse o gol, corria o perigo de não sair vivo da brincadeira.
Mesmo porque, na época, gelado mesmo a gente conhecia refrigerante, sorvete e picolé, sem imaginar que um goleiro devesse jogar em estado sólido.