Ando com o coração meio mole nesse tempo agoniado, conduzindo os assuntos para as “profundidades” da existência.
A solidão, a necessidade do outro e a amizade como matérias de salvação, tudo isso se imbrica numa palavra que usei no começo dessa prosa: existência.
Se as coisas humanas não têm sentido, somente a existência, forma-se aí o nó górdio do lance, o porão do problema, a tragédia do homem: o vazio existencial.
Então, o que se deve fazer para preencher os espaços nesse meio-campo da vida?
Ajudando o outro, dedicando-se à família ou rolando a pedra montanha acima, como Sísifo?
Para não imaginarem que os meus miolos estão moles, tanto quanto o coração, vejam o que me veio à cabeça diante do título de uma crônica de Socorro Acioli, no Diário do Nordeste: “As plantas como companhia”.
Vegetais como companhia, no papel de seres humanos, numa cruzada contra a reclusão, foi o que me ocorreu, pelo sequinte.
Jerônimo, avô materno do consagrado escritor José Saramago, sofreu um AVC não tão grave, mas que depois se tornou preocupante.
Habitando uma aldeia, Jerônimo, homem rude e analfabeto, criava porcos e ocupava uma morada simples de dois cômodos e chão de barro.
No quintal, plantara umas quantas oliveiras, figueiras e pereiras.
Quando sua situação de saúde se agravou, o médico recomendou que Jerônimo abandonasse a aldeia onde morava e se internasse em um hospital, em Lisboa.
Mal a carroça chegou para conduzi-lo à estação ferroviária, o velho pressentiu que não retornaria mais, saiu do casebre e abraçou cada árvore do seu quintal.
Não emitiu nenhuma palavra, chorou baixinho e enlaçou a minúscula floresta para se despedir daqueles seres mansos e quietos que encharcaram os seus dias de sentido.
Resignou-se em dizer tudo o que queria sem dizer nada.
Fácil perceber onde o escriba queria chegar: as árvores, seres mansos e quietos, dando sentido à vida, como companhias.