As plantas como companhia

Samambaias estão na moda. Tenho visto esta afirmação em vários lugares, constatando o aumento das vendas de plantas na pandemia. Não só as samambaias, mas também as zamioculcas, as jiboias, as árvores da felicidade. Essas, inclusive, podem ser macho ou fêmea, dependendo do tamanho e formato das folhas. O macho tem folhas finas e delicadas. As fêmeas já mostram uma folhagem mais larga, resistente, detalhada como renda e que exala um aroma oriental durante a noite. Dizem que cultivar o casal garante a sorte no amor. Mas não é fácil alcançar a graça, há uma regra clara: é preciso ganhar, não comprar. 

Dinheiro em penca, além de ser uma planta linda, já vem com a prescrição no próprio nome: atrai prosperidade financeira. A hera purifica o ar. E todas, em geral, trazem vida para as casas e pequenos apartamentos, que estão ficando cada dia mais verdes.

Bastam alguns minutos nas redes sociais para que possamos entrar na morada de pessoas que nem conhecemos e constatar que a revolução verde tem uma força impressionante. 

Pelo tipo de planta também é possível saber da qualidade do jardineiro. Por exemplo: samambaia está na moda, mas é uma planta que tem seus dengos. Elas querem luz, mas sem sol. Querem água todo dia, mas nada de exageros nos banhos. E não suportam ventos nos cabelos, são vaidosas no penteado. Orquídeas exigem paciência, delicadeza, a calma da espera. É um amor que se investe diariamente, com cuidados complexos, para ver encontrar as flores só de ano em ano. 

No meio de uma pandemia, as plantas tem sido as companheiras de muitas pessoas. Cuidar de um pequeno jardim, de uma minifloresta de apartamento, ensina muito sobre o ciclo da vida.

Somos parte disso.Todo jardineiro precisa saber conviver com a morte, mesmo quando se cuida bem, quando são adubadas, regadas, podadas, às vezes algumas morrem nos vasos, uma a menos no jardim. As pragas das folhas também são difíceis de evitar e de tratar, espalham pelos ramos, chegam sem avisar. 

Assim com as pessoas, as plantas tem suas singularidades, comportam-se de maneiras diferentes, cada uma do seu jeito. Algumas são muito resistentes, como as zamioculcas, que aguentam dias sem água ou qualquer cuidado. Vivem e sobrevivem, apesar de tudo, porque sabem guardar nas folhas o necessário para viver.

Outras quase estendem as mãos para os donos, quase pedem que alguém mude seu jarro de lugar, quase imploram por água e adubo. Cada espécie tem sua biografia: veio de algum pedaço do mundo, carrega uma história consigo. 

Deixar a casa verde tem sido um descanso na vista de quem atravessa a pandemia em isolamento social, fazendo o que é certo diante do quadro grave que estamos vivendo. A vida das plantas é um milagre, assim como as nossas vidas.

É isso que a gente entende, todos os dias de manhã, quando se faz a ronda de rega de um jardim. Acho bonito quem fala com as plantas, observa suas mudanças, aprende com elas que a vida é ciclo. 

A jardinagem é uma forma de homenagem à criação. Ficar em casa, aprender com as plantas, captar o verde da esperança, talvez seja uma das mudanças positivas que podemos fazer na rotina para sairmos dessa pandemia mais fortes, mais sábios, aprendendo a decifrar os mistérios das flores.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.



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