A força das ruas

Leia a crônica de Wilton Bezerra

Um político prometia nos seus discursos "tirar a criança das ruas".

A oposição respondia de forma zombeteira: "Tirar das ruas e colocar nas calçadas."

No nosso tempo, "ir para a rua" era ir ao centro da cidade.

O importante era "ganhar as ruas".

No começo do século passado, João do Rio, escritor carioca, publicou "A alma encantadora das ruas".

Por que escrevo isso?

Flanando (no carro), cedo da noite, por Fortaleza sou envolvido pela melancolia de suas ruas.

Não se encontra "um pé de pessoa". Só automóveis estacionados.

Penso: "Se algo me acontecer, não terei ninguém para me acudir nesta rua vazia".

Por medo ou cansaço, as pessoas se recolhem às suas moradas e o mundo lá fora que se vire.

Eu sei, a vida hoje é assim. Não tem mais cadeiras e conversas nas calçadas. 

Até mesmo nas cidades do interior esses momentos de delicadeza se reduziram.

Ah, antes que eu me esqueça. Têm os reclusos, para quem nunca faltarão paredes dentro de casa.

São aqueles que resolveram se "evaporar" por conta própria.

Sobre esse lance, devo dizer que não fui um escolhido pela reclusão, por entender que, ficando em casa, não vai rolar nada.

No momento, a neuropatia me impõe uma "parada obrigatória" e me fecha o sinal de trânsito.

A vida ao vivo, cara a cara, só com a força que a rua tem.

No encontro com o outro, a troca de ideias, por acreditar que elas ainda dirigem o Mundo.

Quem não respeita a voz rouca das ruas, quando ela é ampliada?

Quer saber? A rua é uma grande passarela, com alas abertas, por onde a felicidade pede passagem no show da vida.



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