A doença dos técnicos: o 'tatiquês'

Confira análise do comentarista Wilton Bezerra

Num ensaio sobre os limites, o genial Luis Fernando Veríssimo traz uma conclusão de Santo Agostinho, segundo a qual, entre todas as tentações do homem, a pior é a “doença da curiosidade”.

Para o Santo, ela nos leva a especular sobre as razões da existência e os mistérios do universo ou sobre tudo que está além da compreensão humana.

Em resumo: tentar compreender mais longe só traz perplexidade e angústia, embora com a visão que aceita as explicações da fé.

Esse texto me levou a refletir sobre os técnicos de futebol, acometidos ultimamente pela “doença do tatiquês”, onde falar sobre a geometrização dos esquemas táticos é mais interessante do que falar sobre o jogo.

Nada contra a curiosidade geradora de novas formas esquemáticas, mas nos parece que o erro está no excesso com o fito de impressionar.

Agora mesmo, o grande Guardiola está sendo varado por criticas pela desclassificação da Liga dos Campeões, diante do Lyon, sétimo colocado do campeonato francês. O técnico virou acusado de “inventor” de um esquema complicado.

Tite, treinador da seleção brasileira, tomado por um certo deslumbramento, tem procurado traduzir o seu “tatiquês” com linguagem messiânica e empolada, como se tivesse redescoberto a pólvora e o macarrão.

Rogério Ceni tem, também, os seus “lançamentos”, nem sempre justificados, com a vantagem de se ancorar num saldo positivo de resultados.

Por qualquer simples modificação introduzida durante uma partida, estão exumando sistemas táticos do começo do século passado, como que por puro diletantismo, já que se tratam, no duro, de alterações circunstanciais.

Seria hora de revisitar o Neném Prancha, lendário treinador de praia do Rio de Janeiro. Aprender que o futebol não comporta curiosidades demais e rebuscamentos em excesso.



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