Opinião: o triste relato de quem presenciou a selvageria das torcidas no Clássico-Rei de Futsal

Clássico-Rei desta sexta-feira (12), foi cancelado após brigas de torcida no ginásio Paulo Sarasate

Escrito por
Vladimir Marques vladimir.marques@svm.com.br
(Atualizado às 22:41)
Legenda: As torcidas de Ceará e Fortaleza entraram em confronto no Clássico-Rei de futsal nesta sexta-feira (12)
Foto: KID JUNIOR / SVM

O Clássico-Rei entre Fortaleza e Ceará pelo Campeonato Cearense de Futsal seria um marco pelo retorno das duas torcidas no ginásio Paulo Sarasate, após 21 anos de torcida única ou portões fechados.

Mas infelizmente o clássico vai ficar marcado por uma selvageria entre as torcidas organizadas de Fortaleza e Ceará, que criaram um cenário de guerra nas arquibancadas e fizeram o jogo ser cancelado.

Um espetáculo de horror, que afugenta o torcedor comum dos jogos. Conversei com alguns antes do jogo, que já temiam o pior.

"Espero que não termine em confusão", disse um torcedor do Fortaleza com um filho pequeno do lado.

Outro do Ceará, com a namorada, falou mesma coisa: "Em vim, mas com um pouco de temor, com medo das organizadas".

Legenda: Ceará e Fortaleza merecem apoio no futsal e não selvageria nas arquibancadas
Foto: KID JUNIOR / SVM

Eu estava lá e entendi o porque do temor das torcidas, ao conversar com torcedores 'comuns' antes do jogo. E entendi também o porque de tanto tempo sem as torcidas estarem dividindo uma arquibancada de um ginásio.

Infelizmente elas não podem dividir o mesmo espaço porque não conseguem conviver em PAZ. 

O efetivo policial foi insuficiente? Sim!

Os tapumes separando as torcidas foram inúteis. Sim!

O esquema de segurança falhou? Sim!

Legenda: Torcidas de Fortaleza e Ceará brigam nas arquibancadas do Paulo Sarasate
Foto: KID JUNIOR / SVM

Mas não justifica a barbárie, e as duas torcidas partirem pra cima da outra.

Desde o início ficou claro o clima hostil, de provocações entre as torcidas organizadas de Fortaleza e Ceará.

Estimo de 90% do público no ginásio era de torcedores organizados.

Muitas ameaças, como 'uh vai morrer, uh quero ver sair daqui", eram frequentes.

Gritos incentivando Fortaleza e Ceará. Eu não ouvi. Só insultos e ameaças.

Nesse clima, os times entraram em campo e jogaram apenas 5 minutos, pois as torcidas não foram capazes de estarem próxima uma da outra por mais tempo que isso.

Quando a briga começou, a polícia tentou conter com tiros de bala de borracha, e evacuar o torcedor comum. 

Eu segui o torcedor comum, vi muitos chorando, soluçando, tremendo, descendo as rampas.

Todos de mão para cima e com medo. Conversei com um pai, com filho pequeno, que nunca mais irá a um jogo se tiverem as duas torcidas. O filho chorava.

Eu que também sou pai, de um de 7 anos, me emocionei foi de partir o coração.

Meu filho também ama futebol, ama um time e não quero isso pra ele.

Também me doí demais, como amante do esporte, futebol e futsal cearense, ver as duas torcidas brigando e querendo matar a outra. Eu acho as torcidas de Ceará e Fortaleza incríveis. Os dois clubes são incríveis. Presencei inúmeras vezes espetáculos inigualáveis das duas torcidas em 20 anos de carreira de Jornalismo. Mas sempre que acontece algo assim, a sensação é de vazio, revolta e de que o esporte perdeu pra violência.

Os times de futsal de Fortaleza e Ceará merecem apoio das torcidas. Não a selvageria.

Conversei com jogadores em quadra após o ocorrido, e um deles, sem querer ser identificado me disse.

"Já não jogamos com grandes públicos na modalidade, comparado ao futebol de campo, e ainda acontece algo assim? O medo que tenho é do clube ser punido e jogar sem torcida, de cada vez menos pessoas acompanharem". 

O Presidente da Federação Cearense de Futsal (FCFS), Roberto do Vale lamentou o ocorrido e garantiu que o jogo será remarcado sem torcida ou com torcida única.

Eu não posso nem dizer que é um retrocesso. Isso é necessário. Infelizmente.

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