Três anos sem Distrivídeo: 'Nosso negócio não era alugar filmes, mas deixar pessoas felizes'

Esta Coluna conversou com Marcelo Arrais, dono da antiga rede de locadoras de vídeo que chegou a ter 16 lojas em Fortaleza. Relembre a história da empresa e saiba o que a família fundadora faz hoje em dia

Legenda: Foto antiga da fachada da Distrivídeo
Foto: Arquivo/Marcelo Arrais
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Lá se vão três anos desde que a Distrivídeo fechou as portas de sua última locadora em Fortaleza, marcando o fim melancólico de um segmento empresarial que, por décadas, foi importante para a economia local. 

Embora as locadoras tenham sumido do mercado — como resultado natural do avanço voraz do streaming e redução da demanda pela mídia física —, no imaginário coletivo de quem cresceu nas últimas quatro décadas, os locais, repletos de fitas e DVDs, ainda possuem espaço cativo e nostálgico.

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História da empresa

Distrivídeo Fac Símile
Legenda: Matéria do Diário do Nordeste, de 1989, enfatizava a expansão da empresa
Foto: Fac-símile

A Distrivídeo nasceu em janeiro de 1986, em Fortaleza, fundada por Maurílio Arrais Maia, um apaixonado por filmes. Hoje com 90 anos, o empreendedor, no início da carreira, era proprietário de cinemas e distribuía filmes de 16 milímetros para cidades do interior. Depois, acabou migrando para o negócio de locadoras, que começava a despertar no Nordeste.

Marcelo Arrais, filho de Maurílio, em entrevista a esta Coluna, conta que a empresa se expandiu investindo no atendimento diferencial. "Nossa equipe tinha total conhecimento dos filmes, por isso, ajudava na escolha dos títulos, sempre buscando oferecer aos cinéfilos filmes de arte, clássicos e documentários", relembra.

"Era até curioso, pois, em determinadas ocasiões, os clientes chegam com verdadeiros 'enigmas' a serem resolvidos até que o título fosse descoberto. Por essa razão, um dos pontos fortes era manter funcionários com elevada qualificação e conhecimento cinematográfico enciclopédico, com capacidade de reconhecer uma produção mesmo que com informações fragmentadas e incompletas".
Marcelo Arrais
Empresário

Os filmes mais alugados de todos os tempos

Distrivídeo
Legenda: Fachada da Distrivídeo em alusão a Jurassic Park, na década de 1990
Foto: Arquivo/Marcelo Arrais

No ranking de filmes mais alugados nas mais de três décadas de operação da locadora, estão Jurassic Park e títulos das franquias "Harry Potter" e "O Senhor dos Anéis".

Outros, lembra Marcelo, tinham uma longevidade extraordinária, como “Ghost - Do Outro Lado da Vida” e “Adorável Professor”.

Um lugar de felicidade para as famílias

Distrivídeo locadora foto antiga
Legenda: Marcelo Arrais (dir.) em registro antigo na locadora
Foto: Arquivo/Marcelo Arrais

Perguntado acerca da grande influência da empresa sobre gerações de cinéfilos cearenses, Arrais respondeu com uma frase impactante: "Não estávamos no negócio de alugar filmes, mas no ramo de deixar pessoas felizes".

Ele relembra que cada locadora era um espaço de experiências e já fazia parte da jornada de fim de semana para a família. O setor infantil, por exemplo, era dedicado à experiência da criança com pequenas brinquedotecas e material para leitura e escrita.

"Para você ter uma ideia do impacto do nosso negócio para as famílias, era extremamente comum pessoas que, durante o período de Copa do Mundo não apreciavam futebol, e optavam por ficarem do lado de fora da loja esperando o jogo acabar para entrar em uma de nossas sedes", conta Marcelo.

Segundo o empresário, a Distrivídeo chegou a ter no auge 16 lojas, sendo disparadamente a marca mais famosa entre as locadoras locais.

O triste fim

Distrivídeo da Av. Antônio Sales, a antiga matriz
Legenda: Distrivídeo da Av. Antônio Sales, a antiga matriz
Foto: Helene Santos/Diário do Nordeste

Com o crescimento do download de filmes online e do streaming, o negócio, assim como todo o segmento, começou a ser fortemente atingido.

"O desafio mais marcante, sem dúvida, foi lidar com o advento da hipervirtualização e a chegada do streaming, somada à desistência gradual das distribuidoras dos grandes players do mercado do cinema em produzir DVDs. Com isso, começamos a entender que o formato de videolocadora não tinha mais como funcionar. Perceber que uma empresa que teve, em determinado momento, 16 lojas com funcionamento e total sucesso, deveria se adequar aos novos tempos não é tarefa das mais fáceis", rememora o empresário.

Pós-fechamento e novo projeto

Maurílio Arrais, fundador da Distrivídeo, e seu filho Marcelo, em foto recente
Legenda: Maurílio Arrais, fundador da Distrivídeo, e seu filho Marcelo, em foto recente
Foto: Arquivo pessoal/Maurilio Arrais

E como anda a vida após a Distrivídeo? A família Arrais continua empreendendo. No mesmo local em que funcionava uma megaloja da Distrivídeo na Avenida Antônio Sales, possuem um café/restaurante, o Greta, que, claro, tem tudo a ver com cinema, desde o nome à identidade visual.

Arrais adianta ainda que no mesmo conjunto arquitetônico, "nascerá um novo projeto", mas diz que, por enquanto, isso é tudo que pode ser revelado. Seguiremos acompanhando.

Veja mais fotos

Distrivídeo locadora foto antiga
Legenda: Registro de 1991 de fachada da Distrivídeo
Foto: Arquivo/Diário do Nordeste

Parte interna de uma unidade da Distrivídeo, em 2021, ano de fechamento da empresa
Legenda: Parte interna de uma unidade da Distrivídeo, em 2021, ano de fechamento da empresa
Foto: Helene Santos/Diário do Nordeste

Marcelo Arrais na Distrivídeo em 1998
Legenda: Marcelo Arrais na Distrivídeo em 1998
Foto: Arquivo pessoal



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