Summit GEQ: Ceará precisa criar cadeia de valor em torno de data centers, diz Silvio Meira
Especialista é um dos palestrantes do Summit GEQ 2025. Ele alerta que a infraestrutura digital, sozinha, não transforma economia e defende foco em formação de pessoas
A forte presença de cabos submarinos e data centers em Fortaleza é costumeiramente apontada por agentes públicos e privados como um diferencial estratégico para o Ceará na economia digital. No entanto, para o cientista, escritor, professor e empreendedor Silvio Meira — palestrante do Summit GEQ 2025 — essa infraestrutura por si só não garante impacto significativo na geração de empregos e na transformação econômica da região.
Segundo ele, tanto cabos submarinos quanto data centers são operados majoritariamente de forma remota, com demanda mínima de mão de obra, a não ser durante o período de construção e implementação.
“Um data center demanda quase zero de recursos humanos para operar”, afirmou. O desafio, portanto, está em construir atividades produtivas em torno dessas infraestruturas, aproveitando a proximidade como vantagem competitiva. Para ele, é urgente que se pense em formas de maximizar as oportunidades de abrigar um hub de conectividade física, gerando valor agregado com novos negócios digitais. Os prédios e cabos por si só, diz, não gerarão riqueza para o Ceará.
Valor agregado
O especialista citou o exemplo do Porto Digital, em Recife, que não possui data centers, mas injetou R$ 6,5 bilhões na economia em 2023. Do total, cerca de R$ 2,5 bilhões foram pagos em salários. “O emprego de engenheiro de software impacta cinco empregos ao redor. O data center não tem esse poder”, disse Meira. O Porto Digital é um distrito de inovação que fomenta soluções e cria produtos em diversas áreas, dos games à tecnologia urbana.
Inteligência artificial
Autor de livros sobre IA, Meira alertou que a revolução da inteligência artificial (IA) exige mudanças rápidas na estratégia das empresas.
No centro de sua análise está o papel das plataformas digitais que, segundo Meira, se tornaram “infraestruturas dominantes da sociedade”. Elas permitem a criação de ecossistemas de comunidades e mercados em rede, em que a competitividade não depende apenas de recursos, mas de capacidade de articulação e inovação, pontuou o especialista.
"Empresas que não se posicionarem como plataformas acabarão sendo absorvidas pelas plataformas de outros agentes econômicos", enfatizou.
Três camadas de inovação
Meira classifica os processos de inovação em três níveis: adaptação, evolução e transformação. Esta última ocorre quando mercados inteiros mudam de base tecnológica, como na substituição da tração animal pelo motor à combustão.
Segundo ele, as transformações atuais seguem a lógica da curva exponencial, com mudanças inicialmente invisíveis, mas capazes de redesenhar setores inteiros em poucos anos.
Na palestra, o cientista cita o conceito de “cisnes vermelhos”, em contraponto aos “cisnes negros” de Nassim Taleb. Enquanto os cisnes negros são eventos raros e reversíveis, os vermelhos seriam transformações sistêmicas irreversíveis, como a internet, as plataformas digitais e a própria inteligência artificial.
Ele destacou que muitas empresas ainda resistem a reconhecer essas mudanças, o que compromete sua adaptação ao novo ambiente competitivo.
Na avaliação de Meira, as empresas que não atingirem até 2030 um estágio de uso de IA em tempo quase real terão dificuldades em manter competitividade.
Summit GEQ
O Summit GEQ, evento corporativo do Grupo Edson Queiroz, chega a sua sexta edição em 2025 com o tema “Conexões que inspiram o futuro”. O evento online é aberto ao público e acontece de 6 a 10 de outubro com palestras gratuitas de grandes nomes em áreas como gestão, consumo, desenvolvimento pessoal, tecnologia e inovação.
O Summit GEQ oferece reflexões e práticas que contribuem para o desenvolvimento pessoal e corporativo, ampliando o debate sobre os rumos da sociedade e do mercado. Inscrições online pelo site.