Desidratação de tarifaço gera alívio para o Ceará, mas impacto será forte para alguns segmentos
Empresários e entidades representantes do setor produtivo cearense ainda calculam os efeitos do tarifaço de Donald Trump e traçam os passos para os próximos dias. Mas a análise de especialistas é que a lista de 697 itens que receberam exceções por parte do governo norte-americano ameniza os impactos do tarifaço de Donald Trump para o Ceará.
No caso do aço - disparadamente o principal artigo de exportação do Estado - uma nova sobretaxa poderia ser devastadora. O item já recebia tarifa de 50% mesmo antes do decreto publicado ontem e acabou sendo incluído no rol de dispensas da Casa Branca, o que já era esperado pelos agentes do setor de siderurgia. A confirmação foi bem-vinda. No primeiro semestre deste ano, o Ceará exportou o equivalente a mais de R$ 2,5 bilhões em aço para os Estados Unidos, fruto da produção da siderúrgica da ArcelorMittal no Pecém.
A castanha de caju, que também está no top 10 das exportações CE-EUA, foi outro produto a escapar da sobretaxa de 40%, gerando alento ao agronegócio cearense.
Impacto de R$ 100 milhões
Contudo, há segmentos relevantes que não tiveram tanta sorte. É o caso do coco. Como mostrou matéria do Diário do Nordeste, uma empresa de Paraipaba calcula prejuízo anual de R$ 100 milhões e projeta férias coletivas e desligamento para parte dos funcionários.
Augusto Fernandes, empresário que atua no ramo de comércio exterior, afirma que alguns empresários do segmento de mel estão acelerando os embarques das mercadorias que estavam paradas, uma vez que o decreto de Trump alonga a data de início da cobrança para 6 de agosto e isenta produtos em trânsito.
"Muitas coisas que o Brasil importa dos Estados Unidos entraram na lista de exceções, como por exemplo os combustíveis. Cerca de 90% do nosso querosene de aviação vem dos EUA. Isso já vem para evitar uma possível retaliação nesse item. Ainda é muito cedo. Precisamos calcular como vai ficar a baçança comercial entre os dois países", diz o especialista.
A Federação das Indústrias do Ceará (Fiec) informa que seus especialistas estão debruçados sobre o tema para identificar tecnicamente os impactos da medida e ações a serem tomadas para mitigar os efeitos do tarifaço assinado pelos EUA.
CNI lista propostas de contingenciamento
A CNI, por sua vez, listou propostas para reduzir os danos. Veja a lista:
- Criar linha de financiamento emergencial do BNDES, com juros de 1% a 4% a.a., específicas para capital de giro para empresas que tiverem exportações afetadas e suas cadeias produtivas;
- Ampliar, de 750 dias para 1.500 dias, o prazo máximo entre a contratação e a liquidação do contrato de câmbio de exportação nas modalidades Antecipação de Contrato de Câmbio (ACC) e Adiantamento sobre Cambiais Entregues (ACE), especialmente aqueles que estão em andamento, realizados por bancos públicos e desenvolvimento, após o embarque da mercadoria ou após a prestação do serviço;
- Prorrogar o prazo e/ou carência para pagamento de financiamentos direcionados ao comércio exterior, como PROEX e BNDES-Exim;
- Aplicar direito provisório de dumping e reforçar os recursos humanos e tecnológicos para resposta rápida a desvios de comércio;
- Adiar, por 120 dias, o pagamento de todos os tributos federais, incluindo as contribuições previdenciárias, e parcelar, em pelo menos seis parcelas mensais e sem incidência de multas e juros, o pagamento dos valores dos tributos que tiveram o recolhimento adiado;
- Realizar o pagamento imediato dos pedidos de ressarcimento de saldos credores de tributos federais (PIS/Cofins e IPI) já homologados pela Receita Federal do Brasil e garantir compensações mais ágeis e previsíveis;
- Ampliação do Reintegra, com elevação para 3% da alíquota de ressarcimento de tributos residuais nas exportações;
- Reativar o Programa Seguro-Emprego (PSE) com aperfeiçoamentos.