Sobre a esperança e a atenção aos nossos medos

Legenda: A esperança, do verbo esperançar, que propõe movimento, ação. E não do verbo esperar, que propõe parar, estagnar
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Segundo Einstein, na teoria da relatividade, o tempo varia de acordo com a velocidade que o objeto se movimenta. Numa interpretação leiga, não científica, o objeto pandemia se arrasta lentamente, suscitando em muito de nós, paralisados pelo espanto, pelo medo, a sensação de que o tempo não passa e tudo isso não acaba.  

Mas, claro que tudo isso vai passar. E podemos passar de forma mais amena se compreendermos o que estamos sentindo e encontrarmos ferramentas que nos ajudem a lidar com esse “tempo”. A partir daí, podemos levar os aprendizados para outras áreas da nossa vida. 

Uma dessas ferramentas é a esperança. Ela é fundamental e necessária para superar, qualquer desafio que gere sofrimento.

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A meu ver, existem dois tipos de medos: o medo real e o imaginário. Chamo de medo real a reação emocional que a pessoa sente quando o fato está acontecendo. Por exemplo, imagina a cena: ao caminhar numa calçada, você é surpreendido por um cão que rosna, late bem alto e avança na sua direção, ameaçando-lhe.  

Neste instante, o medo ativa o instinto de sobrevivência. Hormônios, como adrenalina e cortisol, são liberados, preparando seu corpo para fugir ou enfrentar. Esse estresse físico e mental, na maioria das vezes, cessa logo que a situação é resolvida, diminuindo progressivamente a aceleração dos batimentos cardíacos, a respiração rápida e ofegante, a agitação motora etc. 

O medo imaginário é quando, ao caminhar em uma calçada tranquila, em um dia de sol, você caminha constantemente com medo, imaginando que, a qualquer momento, vai surgir um cão raivoso para lhe atacar, mesmo que não o tenha visto ou ouvido nenhum latido. Neste momento, também serão liberados aqueles mesmos hormônios citados acima.  

Acontece que, naquela situação, você tinha, na sua frente, uma ameaça real e poderia lutar ou mesmo correr, fugindo do perigo. Mas, nesse caso, não tem o que fazer, pois não existe nenhum cão. E esses hormônios, inundando seu corpo, sem serem utilizados para os fins que naturalmente são gerados, continuam provocando as reações físicas.  

Dependendo do quanto continuar, poderão ocasionar diversas consequências no organismo. A principal delas é a elevação dos níveis ansiedade, podendo se transformar em um quadro psicopatológico como os transtornos de ansiedade, muitas vezes seguidos de transtornos de humor, como a depressão.  

Para muitos, a pandemia funcionou, e ainda funciona, como a figura do cão. Muitos enfrentaram o cão real, com diversos resultados desse confronto. Uns saíram vitoriosos, sem sequelas, outros com sequelas. Outros, infelizmente, sucumbiram. Infelizmente! 

Desde o início, um número muito maior de pessoas viveu, e ainda vive, a luta contra esse cão imaginário, nas vinte e quatro horas de todos os seus dias até aqui. E, em sendo imaginário, carrega-o para onde vai, interferindo decisivamente nos diversos afazeres.   

Nos relacionamentos, o cão está lá rosnando. Leva-o para mesa quando vai se alimentar. Leva-o para a cama quando vai dormir e, dessa forma, como se relacionará saudavelmente? Como conseguirá comer saudável? Vai comer demais ou de menos. Como conseguirá dormir, ter um sono reparador? O que acaba por gerar um imenso desgaste físico-mental, paralisia, estagnação, entristecimento, angústia e pessimismo. 

Veja se essas reflexões servem para você, se fazem sentido em alguma área da sua vida que esteja roubando sua energia, tornando seu dia a dia mais pesado, cansativo! Você pode refletir para se ajudar e melhorar sua convivência com o mundo a sua volta.  

A partir desse olhar, cabe-nos intensificar e valorizar a nossa vivência no aqui e agora. Mantendo a mente, o máximo possível, onde nosso corpo está e dando qualidade as experiências vivenciadas. Quanto ao futuro? É aí que entra a esperança. 

A esperança, do verbo esperançar, que propõe movimento, ação. E não do verbo esperar, que propõe parar, estagnar. A esperança nos anima a continuarmos a jornada fazendo a nossa parte, confiantes de que venceremos.  

Tal qual numa competição, o corredor já cansado, a ponto de desistir, ao avistar ao longe a linha de chegada, toma novo fôlego, arranca forças do seu mais profundo ser e vai, na certeza de que conseguirá chegar lá.   

A esperança precisa ser fomentada a todo instante. Não dê ouvidos aos negativistas e pessimistas de plantão. Cultive, mesmo entre dores e desafios, o pensamento positivo e otimista. Agindo assim, o cérebro liberará neurotransmissores que trarão calmaria, serenidade e forças renovadas para os enfrentamentos necessários. 

Quero lhe propor um exercício prático para experimentar até a próxima sexta. Tente iniciar o dia comprometendo-se mentalmente em manter seu pensamento no presente.  

Diante de um problema, de uma situação desafiadora, procure trazer o olhar de esperança, de otimismo, que logo será resolvido, superado. Mesmo que, de princípio, não saiba nem como isso acontecerá, levante confiante de que vai conseguir. Observe como se sentirá nesses momentos, pensando assim.  

Busque a música "Nunca pare de sonhar do Gonzaguinha" e experimentar cantar. Observe como se sente. 

Para mim, muitas vezes, a esperança se confunde com a fé. Gosto de um ditado que diz assim: Fé, é você dar o passo na certeza de que Deus porá o chão. Não podemos esperar, precisamos dar o passo que só nós podemos dar. Fazer a nossa parte e ESPERANÇAR. 

Paz e bem! 

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor. 



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