Não consigo entender como grupos agridem e matam, tendo por motivo insatisfações decorrentes do futebol. Sou de um tempo em que as torcidas adversárias iam juntas aos estádios. Juntas assistiam aos jogos. E juntas voltavam para casa. Sem nenhum problema. E, se por acaso, houvesse algum desentendimento, a turma do “deixa disso” logo resolvia a questão. E nem era preciso a intervenção de policiais. Nas décadas de 1950 e 1960, os torcedores tinham comportamento civilizado. Predominava a urbanidade.
Hoje, estou perplexo diante da violência praticada por determinados grupos de torcedores. É extremamente grave o que uma certa “torcida organizada” do Sport praticou contra a delegação Fortaleza. Ato criminoso, premeditado, covarde, que provocou lesões corporais em seis jogadores do Leão. O desfecho poderia ter sido trágico, inclusive com a morte de vários atletas. A meu juízo, houve tentativa de homicídio. Os agressores assumiram deliberadamente o risco de matar os atletas. As autoridades brasileiras devem assumir uma posição severa diante do fato, se não quiserem que se transforme em rotina o ataque a ônibus transportador de delegações esportivas.
Não é a primeira vez que delegações esportivas sofrem ataques de bandidos, que se dizem torcedores de futebol. Não são torcedores: são bandidos. O setor de inteligência da Segurança Pública de Pernambuco deve trabalhar rápido, no sentido de identificar os agressores. O que houve em Recife não pode se transformar em mais um caso de impunidade no Brasil.
Anteontem, o elenco do Fortaleza foi alvo da violência praticada por grupos organizados. Qual será o próximo time a passar por ataques semelhantes? Se não houver severa e exemplar punição, isso poderá desencadear no país uma sequência interminável de atos violentos da mesma natureza. Há grupos que praticam a vindita. O assunto é muito mais sério do que se imagina.
Reconheço que há um esforço muito grande das autoridades brasileiras, no sentido de conter as ondas de violência no âmbito do esporte, dentro e fora dos estádios. As dificuldades são visíveis, quanto ao controle fora dos estádios porque os grupos atuam de surpresa. Muitas vezes não há como o sistema de segurança fazer o monitoramento.
Como entender que torcidas organizadas do mesmo time entrem em conflito? Qual o motivo gerador desses conflitos, se vestem as mesmas cores e torcem pela mesma equipe? Fica muito difícil compreender o que há por trás de determinadas posições. É um caso que precisa também ser analisado com muito rigor.
A agressão sofrida pela delegação do Fortaleza não pode ser contabilizada como apenas mais um ato de violência dentro do esporte. Também não pode ser comparada a tantas outras que aconteceram por aí. Foi o ato de um grupo perigoso que assumiu deliberadamente o risco de matar os atletas. A resposta, no âmbito policial e judicial, tem de ser dada com o máximo de rigor.