O Santos, que veio e ganhou do Ceará (0 x 1), praticou um futebol reativo ou uma retranca? A nomenclatura moderna deixa dúvidas quando procura diferenciar uma coisa da outra. Os modelos têm pontos tão semelhantes que até mesmo os mais obstinados estudiosos dos esquemas táticos se confundem. Na minha observação simples, sem o aparato de acadêmico da matéria, vi o Santos recuar todo depois que abriu a contagem no início do primeiro tempo diante do Ceará. Dizem os modernos comentaristas que ali o Santos assumiu o modelo reativo, ou seja, o Ceará tinha a posse de bola, mas o Santos controlava os espaços. E, no momento preciso, daria o bote mediante contra-ataques rápidos. Tudo é muito bem explicado pelos técnicos de futebol. Beleza. Mas, a meu juízo, o Santos, no Castelão, organizou mesmo uma retranca como se time pequeno fosse. Ficou todo atrás, tentando saída em velocidade com Marinho. Se aquilo é futebol reativo, terei de fazer uma mudança de conceito. Então terei de admitir que a retranca foi abolida do futebol. Agora, qualquer time que fique atrás, programando-se para contra-ataques, alegará certamente que não é retranqueiro, mas reativo. Pois, sim.
Grande Dimas
O soldado alvinegro, Dimas Filgueiras, muitas vezes levou então injustamente a pecha de retranqueiro. Era criticado por isso. É hora de reabilitá-lo. Direi que foi o precursor do modelo reativo. Um técnico, portanto, à frente do seu tempo. Pois foi assim que ele fez o Ceará brilhar na Copa do Brasil de 1994, quando se sagrou vice-campeão.
Ora, ora
Foi fechado e saindo em velocidade com Catatau, Jerônimo e Sérgio Alves que Dimas Filgueiras eliminou Palmeiras e Internacional, indo à decisão com o Grêmio, em Porto Alegre. Aí, na final, foi vergonhosamente garfado pelo árbitro Roberto Godói. Na época, então, Dimas já usava esse tal de futebol reativo. Entretanto, preconceituosamente chamado de retranqueiro.
Voltas da vida
O comentarista Wilton Bezerra garante que, muito antes de Rinus Michels, técnico holandês que década de 1970 inventou o “Futebol Total”, o técnico Praxedes Ferreira já fazia isso em Juazeiro do Norte na década de 1960, dez anos antes. O “Modelo Angu”, do Praxedes, era todo mundo se mexendo para não queimar. Praxedes teria sido então precursor do futebol total.
Quem sou eu para discordar dos sábios estudiosos do futebol moderno de hoje. Mas digo a vocês: muito antes do tic-tac do Guardiola eu vi o Cruzeiro de Piazza, Zé Carlos, Dirceu Lopes e Tostão fazer a bola rolar de pé em pé. Os espanhóis só fizeram isso muitos anos depois.
Muito antes, na década de 1960, o Santos, de Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe, escondia a bola em envolvente troca de passes. O Flamengo de 1981, com Andrade, Adílio e Zico também rodava a bola com encanto, bem antes dos espanhóis. Guardiola levou a fama.