Zezinho, o gol marcante de 2004 e a 'rasteira' no Fortaleza

Ex-atacante se declara torcedor do Ceará, conta histórias de vida e carreira em passagens marcantes pelo alvinegro

Legenda: Zezinho comemora título do segundo turno em 2004 diante do rival Fortaleza
Foto: Kiko Silva

José sempre foi determinado, sabia onde queria chegar e precisava apostar alto no talento que era muito nítido. Deixou o interior da Bahia, na cidade de Macaúbas, para trilhar um sonho, aquele que alimenta uma porcentagem altíssima de garotos pelo Brasil.

A brincadeira fez José repensar quando foi demitido da empresa em que trabalhava por ser menor de idade, a mentalidade para se tornar um profissional não era tão condizente com a juventude, mas José partiu para pertinho, em Feira de Santana, ainda na Bahia, para se transformar em Zezinho. Ouça o Bate Papo com os Craques recebendo o xodó alvinegro, Zezinho

"Meu pai me levou para trabalhar em uma empresa de granitos, mas a empresa me mandou embora porque o 'de menor' não poderia trabalhar, pois precisaria ter o registro na carteira de trabalho, então me mandou embora. Naquilo que eu fui mandado embora, falei para o meu pai que iria embora para Feira de Santana fazer um teste no Fluminense", conta.

"Foi nessa época que o Flamengo foi campeão da Taça São Paulo, foi quando surgiram os craques, né? Junior Baiano, Djalminha, Marcelinho, Piá. Com uma semana que estava em Feira de Santana, o Júnior Baiano veio de férias e o pai dele tava selecionando jogadores para fazer teste no Flamengo. E teve um teste no Jóia da Princesa e mandou que seu Mundinho (Pai de Júnior Baiano), arranje um time para jogar contra o deles e me colocaram. Nesse jogo, perdemos de 7, porém, eu fiz 3. Foi onde fui selecionado para ir para o Flamengo."

Aos 15, 16 anos, Zezinho, de Macaúbas, rapidamente já estava no Rio de Janeiro. Foram oito meses na capital carioca, então ainda garoto, sem a maturidade necessária para estar sozinho em uma metrópole, andou cometendo algumas indisciplinas, resultado? Acabou sendo dispensado do Flamengo e retorno para Feira de Santana.

"Me deparei com dois japoneses morando comigo e a gente morava em Botafogo, lá tem teatros, onde a movimentação era grande. Era eu e mais uns quatro ou seis dentro de um quarto, mais ou menos no sexto andar. E passava muita gente, então lá de cima, a gente moleque, com 15 e 16 anos, ficávamos apostando lá da janela quem acertava na cabeça das pessoas, cuspindo, né?! Olha que situação! Coisa de moleque, menino! E a gente apostava comida, né? Pedaço de carne ou que pagasse alguma coisa vindo do treino. Então, certo dia, recebi só a notícia que precisava ir embora, porque foram recebidas várias queixas e descobriram o que a gente fazia".

'Drible' no Fortaleza e 'fuga' para o Ceará

Zezinho 'rodou' ainda nas categorias de base, chegou a jogar na França, no Toulouse. Ganhou destaque no América de Natal, fez gol de título importante do Torneio Rio-São Paulo pelo Vasco. Em 2001, com o "passe" preso ao Vasco, certo empresário ofereceu Zezinho ao Coritiba sem ninguém saber ou conhecer e ao mesmo tempo, Eurico Miranda tinha cedido Zezinho ao Fortaleza. 

"Eu tinha uma afinidade nas categorias de base, um cara amigo meu, Geraldo Pereira, pai de Lula Pereira. Uma pessoa fantástica, fora do comum, me ensinou tudo que eu aprendi no futebol. Quando eu tava no Vasco, recebe uma ligação para se apresentar ao Ceará então pensei 'fazer o que no Ceará, pelo amor de Deus?'. Era um baque, né? E o meu empresário já tinha me ligado dizendo que tinha uma proposta do Coritiba, na sexta. No domingo, recebi uma ligação do meu supervisor no Vasco, dizendo que eu ia me apresentar ao Ceará... falei com meu empresário, que me falou que o Lula Pereira estava lá, mas eu não conhecia o Lula, conhecia o pai, Geraldo. Então liguei pra ele... ele me aconselhou ir para o Ceará. Mas, até então, era para eu me apresentar ao Fortaleza, porque Eurico Miranda tinha amizade com algum deputado aí com influência no Fortaleza."   

Por influência do pai de Lula Pereira, desembarcou na capital, saindo pela porta dos fundos do aeroporto, para não encontrar membros da diretoria do Fortaleza. E a saída era justamente pela escolha do ex-atacante, a ida para o Ceará. Ele desembarca no estado para jogar no Fortaleza, mas 'foge' do tricolor e se apresenta ao Alvinegro.

"O Fortaleza era o time que melhor pagava, tudo em dia. Peguei referência e comecei a pensar sobre isso, mas eu tinha muito carinho e gratidão por Geraldo Pereira, pai de Lula Pereira. Então dentro do avião, eu liguei para o Dimas Filgueiras, avisando que ia para o Ceará e já havia avisado ao Isaías, meu supervisor no Vasco. Decidi que iria ajudar Lula, filho de Geraldo Pereira. Quando eu desembarquei, não saí pela frente, não, saí pelos fundos, porque tinha gente do Fortaleza para me levar para o Pici. Aí eu peguei e fui para o Ceará".

Retorno em 2004 e gol histórico

Zezinho se destaca no Ceará, ganha mercado e sai em 2001. Porém, retorno no segundo turno de 2004, com algumas negociações curiosas, porque Zezinho tinha um extracampo mais agitado.

Imagem atacante Zezinho
Legenda: Zezinho desembarcando no aeroporto para jogar pelo Ceará
Foto: LC Moreira

"Cheguei praticamente no segundo turno com uma ligação de Lula para ajudar o Ceará e já estava nas finais do primeiro turno. Então ele me colocou para falar com Alexandre Frota, presidente do Ceará. Então ele me perguntou se iria para o clube, pra fazer festa, ir pra noite ou pra jogar. Então respondi que ia para fazer os dois. Fui sincero, claro! Comecei a treinar, pedi dez dias e pronto, comecei a meter gol, indo bem."

Na véspera do clássico, da final do segundo turno, Zezinho tinha saído para 'relaxar', mas uma situação chamou atenção do atacante que ia "tomar umas" e desistiu.

"Eu comecei a frequentar uma churrascaria chamada spettus, antes daquela final e os garçons vieram me dizer que o Raimundo Delfino (dirigente do Fortaleza) já tinha acertado a festa do título lá na churrascaria, então pensei, 'como é'? Ia tomar umas duas, aí desisti. Liguei para Sérgio Alves, contei e me concentrei para aquele jogo. Eu tava voando e fiquei para entrar no segundo tempo. Um dia antes, Lula chamou eu e Sérgio Alves no quarto dele... ele entraria com Sérgio e Paquito, eu ficava para o segundo tempo, para caso de empate, era um trunfo para jogar a prorrogação. Eu no aquecimento para o segundo tempo, já entrei no lugar do Paquito, mas eu senti naquele dia, a gente sente. Fui predestinado naquela jogada."