Faltando dez rodadas para encerrar o Brasileirão, o Ceará vive uma crise de identidade com o planejamento de competição estabelecido. Com os resultados conquistados na temporada passada, título da Copa do Nordeste, melhor posição na história dos pontos corridos, além do equilíbrio financeiro fora dos gramados, o alvinegro entrou na temporada 2021 com maior força para investir e elevar ainda mais a 'prateleira' do clube. Infelizmente, plano e prática não se aplicam e o clube vive, sim, um dilema para definir os objetivos no Brasileirão.
Tiago Nunes completou dez jogos no comando técnico e a ideia inicial de tentar evoluir o aspecto ofensivo da equipe, mas ainda não trouxe sinais. Foram somente sete gols marcados, uma vitória, seis empates e três derrotas. A inconstância de resultados e atuações foram empurrando o Ceará para a parte mais baixa da tabela, é onde iniciam as dúvidas sobre os objetivos do time na temporada. Na chegada do Tiago, a ideia era permanecer na primeira parte da classificação, neste novo cenário, é garantir a permanência para quem sabe, buscar um algo a mais dentro da Série A.
É justamente esse processo no trabalho do novo treinador que vem incomodando, as constantes mudanças de escalação e em alguns momentos, alterando o modelo de jogo da equipe, vem desacelerando o processo de evolução do trabalho técnico. Tiago Nunes afirmou que era uma característica dele, que não iria repetir a escalação, que conhece todo o elenco e cada atleta. Mas a prática do discurso ainda não está bem alinhada.
Houve evolução?
Conhecimento técnico e prático Tiago já demonstrou. É sim, um treinador qualificado para dar sequência a um padrão de equipe que eventualmente ele pense. Mas as alterações na escalação não estão dentro de uma coerência nas circunstâncias de competição, onde o Ceará precisa encaixar uma equipe base, com esquema e modelo bem estabelecido para voltar a ser eficiente na Série A.
Apesar da afirmação em coletiva, Tiago está sim, experimentando, observando na prática, cada atleta à disposição. Nem sempre foi estratégia de jogo a jogo. Os três volantes diante do Juventude não havia necessidade, sendo que ele nunca experimentou essa formação tática e naturalmente os atletas teriam dificuldade em se adaptar. O que veio antes, na sequência de Bragantino e Palmeiras era de um time com dois volantes e mais proposto atacar, mas sem o Vina, suspenso, ele preferiu desfazer o modelo.
Falando do setor ofensivo, apesar da ausência de gols, o time já mostrou sinais de evolução. Dominou bem no segundo tempo contra o Internacional, produziu contra São Paulo, Palmeiras e Bragantino, mas ainda falta eficiência na finalização. Mas um contraponto negativo é o sistema defensivo, que antes, era o ponto de equilíbrio alvinegro e nos últimos jogos cometeu falhas individuais e coletivas, foi de onde surgiram a maioria dos gols adversários.
Futebol é constância, sequência. Pilares básicos para conseguir entrosamento, principalmente com uma metodologia nova de trabalho que chegou e já existia um padrão de formação, um legado, não foi um trabalho encontro do 'zero'. Diante do Bahia, o Ceará voltou a apresentar mais consistência defensiva, de um time característico do trabalho anterior do Guto Ferreira.
As evoluções chegam à 'conta-gotas' e apresentando variações, mas aos poucos, os atletas vão entendendo cada ideia, mesmo que não se mantenha entre os jogos, quando são exigidos, o time parece entender exatamente como devem executar. Faltando dez rodadas para o fim do Brasileirão, o problema não são as mudanças, mas a 'quebra' nas formações entres os jogos que desaceleram a busca por um padrão. É exatamente isso que incomoda dentro dos objetivos traçados.
Juventude e Bahia eram confrontos para definir por onde deveria brigar o Alvinegro e mais uma vez, os empates adiaram essa definição. Dois jogos em casa, Fluminense e Cuiabá, duas oportunidades e tentativas para entender o que busca Tiago Nunes e à medida que as rodadas vão acontecendo, o Ceará vive um jejum de sete jogos, não consegue vencer, as equipes da zona de rebaixamento vão aproximando a pontuação e é necessário entender qual objetivo o alvinegro deve estabelecer na Série A? O sufoco da luta contra o rebaixamento? Ou a tranquilidade da permanência e quem sabe, uma vaga em uma competição internacional? Essas respostas passarão pelos resultados dos dois próximos confrontos em casa.