Auge, títulos, Flamengo e pavio curto: Wendell, o volante promissor do futebol cearense

Uma carreira de títulos, disputa de Série A e aposentadoria precoce pelo "cansaço" dos problemas no futebol. Trajetória de vida e carreira de um dos mais promissores jogadores do futebol cearense

Legenda: Ex-volante Wendell, durante passagem pelo Fortaleza em 2003
Foto: Arquivo/DN

Volante moderno, carreira iniciada no Uniclinic, rapidamente se destacou e ganhou ainda mais notoriedade no Ceará. Não à toa chegou ao Flamengo. Ganhou destaque, mas se aposentou muito cedo, aos 33 anos. Logo no início da conversa, perguntinha base: Wendell era pavio curto?

"Eu era curtíssimo! Curtíssimo, eu era..." completou com bom humor.
Wendell
Ex-jogador do Ceará

Wendell foi o primeiro campeão cearense da segunda divisão, jogando pelo Uniclinic, ainda garoto e ganhando destaque. Natural de Fortaleza, Wendell nasceu e foi criado no bairro tradicional do Conjunto Ceará e neste processo de profissionalização na carreira de jogador, quando iniciava no Uniclinic pensou em desistir.

"Quando eu comecei a ir para o Uniclinic era uma distância muito longa do Conjunto Ceará para Lagoa Redonda, foram quase quatro anos basicamente de ônibus. Eram quatro pra ir e quatro para voltar. Tive que ter muita disposição na época. Pensei em desistir por causa de salários atrasados, quando estava na beira dos 18 anos. Você sem dinheiro, se afasta dos estudos e é uma transição difícil, porque eu me mantinha na busca para me profissionalizar ou desistir para estudar", conta Wendell.

Estouro no Ceará e ida para o Flamengo

Wendell faz parte de uma geração promissora de atletas. Além dele, o meia/lateral Rabicó. Arnaldo Lira, que tinha passado pelo Uniclinic, pediu a contratação das duas revelações da Águia da Precabura. Wendell rapidamente se consolidou e ganhou destaque no Ceará em 2001, jogando pela Série B. Por muito pouco não conseguiu a classificação para disputar o acesso para a Série A.

"Fizemos uma campanha excelente e até hoje não sei como a gente perdeu ali para o Avaí naquela zona final para disputar o acesso e ficar só os quatro. Nós tínhamos um ataque com Sérgio Alves, Iarley e Mota, tinha eu, Lopes e França no meio campo. Aquele time era muito bom! No PV aplicamos várias goleadas e neste ano o Ceará tinha meu direito de compra e exerceu. Então o time foi fortalecido para 2002, chegaram Magrão, goleiro, Arlindo Maracanã, Fábio Vidal, Cléber. Foi a partir do título de 2002 que despontam", relata Wendell.

Foi justamente a campanha na Série B de 2001 e o título cearense em 2002 que fizeram, rapidamente, Wendell ir para o Flamengo, levado pelo ex-treinador Lula Pereira.

"Eu tinha 22 anos de idade, foi após o Campeonato Cearense. Na época, quem apostou me levar foi o saudoso Lula Pereira. Mas tem até uma história curiosa. Eu cheguei no dia em que o Flamengo fazia um treino de apronto para um jogo contra o Paysandu, perdeu por 1 a 0 no Maracanã e o Lula foi demitido. Então eu fui levado por ele, mas nunca fui treinado por ele. Era uma época muito difícil, um cearense sair direto para jogar em um clube grande sem ter jogado ou se destacado no eixo, em um menor paulista, algo assim".

Série A pelo Fortaleza

Contratado em 2003, o Tricolor vinha de um vice-campeonato da Série B, na histórica "jangada atômica", manteve a base para disputar pela primeira vez no modelo de pontos corridos a elite do futebol brasileiro. Sendo um dos principais destaques, Wendell havia sido campeão cearense "arrastão" pelo tricolor e aparentemente, estava pronto para disputar a competição. Apesar da oscilação dentro da competição, o ex-volante tricolor acredita que o rebaixamento foi por alguns fatores, além dos erros de arbitragem na competição, o "amadorismo" da diretoria da época.

Ouça o podcast com Wendell

"Neste ano de 2003, pra ser sincero, foi um campeonato que ganhamos com muita facilidade. O Luiz Carlos Cruz trocava os onze titulares e colocava outros onze e ganhamos de 3 ou 4 a zero. Nós tivemos um jogo contra a Ponte Preta que o Fabrício Carvalho fez um gol nítido com a mão e o time caiu. Não foi porque era fraco, não tínhamos time para cair naquele ano. O extra-campo foi quem nos derrubou. Uma pressão feita pela diretoria, trouxeram jogadores fora de forma e encheu o elenco com 30 jogadores. Você perde o grupo e administra todas essas cabeças, o ambiente ficou muito pesado. E acredito que esses erros administrativos foram fundamentais para que a gente caísse naquele ano", revela.

Com a base da "jangada atômica", o que mais chamava atenção era o time 'recheado' de jogadores nascidos no estado do Ceará.

"Era o Alysson o camisa 10, o meia, jogava mais adiantado. O Dude era o que segurava mais comigo e eu era o segundo volante que saía mais para o jogo. Time recheado de cearenses e na lateral-esquerda revezava muito entre o Marcos Paulo e o Sérgio, além do Chiquinho pela lateral direita. Ainda tinha o Carlinhos, da base que às vezes jogava ao lado do Fernandão".

Polêmica

Um dos assuntos mais polêmicos na disputa da Série A é o último jogo da competição diante da Ponte Preta. Havia promessas feitas pelo ex-presidente Jorge Mota ao elenco que não foram cumpridas. Neste jogo pela última rodada, se o Fortaleza vencesse, escapava do rebaixamento. Wendell não atuou pois estava suspenso por ter jogado de maneira irregular, ainda na época de Flamengo.

"Na época, eu jogava com uma liminar judicial contra a pessoa que gerenciava minha carreira, e essa liminar foi cassada faltando cinco rodadas para terminar o campeonato. Credibilidade o diretor (Jorge Mota) não tinha, o cara mentia pra caramba e essa história de cheque, recebi tanto dele sem fundo. O Jefferson como qualquer outro atleta errou, assim como eu, quando fui expulso em alguns jogos. O futebol tem muita mentira também, quando perde aparece muita coisa e quando ganha, se tiver muita coisa errada, você acaba encobrindo", completou Wendell.