Ciclo menstrual interfere no desempenho de atletas, mas com ajuda da medicina pode potencializá-lo

Ginecologia esportiva é o ramo médico que tem ajudado atletas em todo mundo; e a coluna explica direitinho para você

Legenda: Tandara Caixeta: atleta brasileira que ficou de fora da final olímpica, após exame antidoping; anticoncepcional é suspeito de ser o "vilão"
Foto: Wander Roberto/COB/Divulgação

TPM, inchaço, cólicas, cansaço, irritação. Essas são apenas algumas das muitos transtornos, bem conhecidos da maioria das mulheres, em decorrência de alterações hormonais. Consciente de que elas poderiam afetar na performance, no desempenho de atletas e, consequentemente, no resultado de competições, o Comitê Olímpico Brasileiro permitiu que as esportistas organizassem o ciclo menstrual.

Convidei a Dra. Ticiana Lima, gineco-obstetra, especialista em reprodução humana, portanto sabe tudo de ciclo menstrual, para explicar para nós, SiSi lovers. Afinal, como a menstruação pode afetar o desempenho das atletas femininas? A oscilação hormonal que pode mesmo atrapalhar a performance de esportistas?

A médica respondeu, prontamente, e bem explicadinho.

Ginecologia esportiva

Existe uma oscilação hormonal durante todo o mês relacionada a diferentes fases do ciclo menstrual.

O ciclo menstrual é dividido em três fases:

  1. Folicular (em que a concentração de estrógeno está em ascensão),
  2. Lútea (quando a progesterona começa a se elevar)
  3. Menstrual (momento em que a produção dos dois hormônios cai e desce o sangramento via vaginal).

As flutuações hormonais mexem com o humor, mas também, podem afetar os padrões de disparo muscular, a frouxidão dos ligamentos e a biomecânica do movimento das atletas.

Mas há opções para controle do fluxo: os anticoncepcionais, que bloqueiam a menstruação ou conciliação das fases do ciclo com datas predeterminadas de disputas. Isso pode ser interessante para saber usar as fases a seu favor tanto para os treinos, como para as competições.

Ticiana Lima explica que, com o surgimento da ginecologia esportiva, houve uma evolução da autonomia das atletas sobre suas menstruações. Esse ramo da medicina foi destacado nas Olimpíadas de Tóquio, por gerar resultados interessantes nas atletas mulheres melhorando na performance.

As esportistas puderam optar por: menstruar, ou "emendar as cartelas", ou trabalhar com a sensibilidade decorrente das oscilações hormonais e, por fim, ou programar a menstruação com treinos e competições.
Dra. Ticiana Lima
Médica ginecologista-obstreta

Flutuações hormonais a favor das atletas

Vistas como uma barreira ao treino e à performance, as flutuações hormonais podem ser usadas a favor das atletas, com o acompanhamento correto.

Uma curiosidade: há mais de 20 anos, as equipes femininas de vôlei apresentaram um salto de qualidade na performance, entre 60 e 70%, desde que iniciaram acompanhamento adequado de ciclos menstruais das jogadoras.

E O QUE HOUVE COM A TANDARA CAIXETA?

Na reta final das Olimpíadas de Tóquio, a jogadora da Seleção Brasileira de Vólei Tandara Caixeta ficou de fora da competição por suspeita de violação da regra antidopagem, pela utilização de um remédio para controle menstrual que poderia ter sido a causa do resultado que levou a atleta sair das quadras. A Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) tinha ciência do remédio e autorizou seu uso para regular a menstruação.

O assunto foi motivo de discussão de atletas e médicos, nas redes sociais, que asseguram que a única substância hormonal que gera doping é a gestrinona, encontrada no que já falamos por aqui: “chip da beleza”, lembra?

“A jogadora Tandara Caixeta foi reprovada em exame antidoping e muito tem se falado que foi pela medicação usada para regular ciclo menstrual, porém utilizamos anticoncepcional que não faz parte da lista de medicações proibidas no código mundial antidoping", explica a médica Ticiana Lima.

"Anticoncepcional oral combinado, isolado (progesterona), DIUs, anel vaginal, Implanon e adesivos estão liberados para as atletas. Porém, na lista consta a gestrinona, uma progesterona utilizada em forma de implantes hormonais, essa sim, está proibida. Devido aos seus efeitos androgênicos (como diminuição de gordura e aumento de massa muscular), a gestrinona não é liberada para atletas em nenhuma fase na competição", detalha.

 



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