Gravar e viver 45 dias no Pantanal foi uma experiência transformadora

Viramos uma espécie de reality show, um Big Brother Brasil

Legenda: Quando cheguei, já existia toda uma amizade, cumplicidade, afetividade, sintonia e alegria entre eles, que eu não fazia ideia de como me inserir

Era janeiro de 2021, quando recebi uma ligação de Rogério Gomes - o Papinha - diretor geral da novela Pantanal. Eu estava em Vitória, no Espírito Santo, e ele me ligou para fazer o convite para interpretar Zaquieu. Eu gelei! Eu queria tanto esse papel, eu queria tanto estar nessa novela, que não cabia em mim de tanta alegria.

Sou fã assumido do folhetim desde criança e fui espectador assíduo da versão de 1990. Na época, eu tinha apenas oito anos e morava com minha família em Mombaça. É claro que eu já me identificava com o personagem de João Alberto Pinheiro, mas não entendia muito bem. Então, aos 39, encarar esse mesmo personagem com tantas facetas de humor e didatismo sobre as pautas LGBTQIAPN+ tem sido revolucionário.

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Ouvir a voz do Papinha do outro lado da chamada foi como reviver emoções. Nós trabalhamos juntos em A Força do Querer (2017) e eu tenho um grande carinho e respeito por Rogério desde então. Minha primeira cena na TV - aquela em que Nonato/Elis Miranda é contratado pelo personagem do querido Humberto Martins - foi dirigida por ele.

Papinha sabia que era a minha primeira experiência com televisão e o quanto eu estava assustado com toda aquela parafernália na minha frente. Ele sabia do meu medo e da imensa pressão que eu mesmo me coloquei para não frustrar as expectativas do público e de Glória Perez, que me fez o convite. Rogério dirigiu minha estreia da forma mais acolhedora possível e isso fez toda a diferença.

Entre o convite para Pantanal e a data de início das minhas gravações se passou mais de um ano. Finalmente, em fevereiro de 2022, entrei nos Estúdios Globo e, para a minha surpresa, fui acometido novamente pelo mesmo medo e a mesma pressão para não decepcionar as tais expectativas, mesmo não sendo mais um estreante. Além disso, outro sentimento tomou conta de mim: eu me senti um peixe fora d’água.

Todo o elenco e a equipe da novela já estavam gravando há meses, já tinham feito a primeira viagem ao Pantanal nas gravações da primeira fase e algumas cenas da segunda. Quando cheguei, já existia toda uma amizade, cumplicidade, afetividade, sintonia e alegria entre eles, que eu não fazia ideia de como me inserir. Me senti deslocado durante um bom tempo, apesar da receptividade e carinho de todos comigo.

Eis que chegou o período da segunda viagem ao Pantanal para gravarmos mais sequências dos personagens no bioma. Lá fomos nós, elenco e equipe, para uma temporada de 45 dias isolados entre fazendas, bichos, natureza e, claro, muito trabalho. E foi aí que tudo mudou. Meu peixe virou cardume, o medo foi embora, fui me sentindo mais confortável e cada vez mais abraçado por todos.

Nós nos dividíamos em fazendas, dormíamos em quartos compartilhados, fazíamos todas as refeições juntos, além das horas de gravações.

Nas folgas, adivinhem! Estávamos todos juntos, claro. Eram dias de banho de rio, rodas de viola, fogueira e prosa. Tinha quem passeasse, quem jogasse futebol, quem praticasse yoga, quem fizesse dancinha de Tiktok. No meio disso, muita conversa jogada fora, muita risada e um companheirismo imenso.

Para o público apaixonado pelo folhetim, os bastidores de Pantanal virou uma atração à parte. Tudo virava notícia, todo o nosso cotidiano, especulações, fofocas, fantasias… Viramos uma espécie de reality show, um Big Brother Brasil. Até a volta do saudoso VídeoShow começaram a pedir na internet, com os telespectadores ávidos por notícias das gravações no Coração do Brasil.

Fico feliz com o imenso sucesso da novela, mas sinto dizer que nada, nenhuma notícia, nem mesmo essa coluna dará conta do que foi viver tudo isso. Essa temporada foi essencial para que eu pudesse entender a grande transformação que é estar naquele lugar, a transformação que todos que já tinham vivido essa experiência falavam.

Estar em um contato tão próximo com a natureza, ver cobras, onça, jacarés, araras, capivaras, o rio, a mata, o som dos pássaros, o pé na terra, o vento, as pessoas… Tudo traz uma energia que mexe com tudo dentro de você, te revira do avesso. São muitas mudanças íntimas e eu constatei essa riqueza.

Voltei a gravar em estúdio recentemente, no Rio de Janeiro, e agora me sinto completamente dentro d’água. Fui guiado pela natureza e me sinto inserido nessa família pantaneira com a certeza de que somos sucesso de audiência porque estamos trabalhando com um amor absoluto.

Não há como sair o mesmo do Pantanal.

Não há como eu sair o mesmo de Pantanal.