BBB21: o 'se' que pode matar

Legenda: A edição de 2021 tem sido pautada por diversos assuntos importantes, como racismo, machismo, xenofobia e LGBTfobia
Foto: Reprodução/BBB

Todos que me conhecem ou me seguem nas redes sociais sabem o quanto sou fã de Big Brother Brasil. Acompanho, comento, voto, torço e aprendo com o programa. Sim, o reality da Globo de maior audiência da atualidade, de certa forma, pode ser educativo.

Conta com participantes que são reflexos de nossos tempos, sejam eles sombrios ou não. A edição de 2021 tem sido pautada por diversos assuntos importantes, como racismo, machismo, xenofobia e LGBTfobia.

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O caso mais recente provocou um dos momentos mais emblemáticos do programa. O apresentador Tiago Leifert resolveu quebrar um protocolo do reality e interferir sobre uma discussão levantada durante um Jogo da Discórdia. Na ocasião, o professor João Luiz “denunciou” um comentário racista do cantor Rodolffo, que havia feito uma “brincadeira” comparando uma peruca de homem das cavernas com o black power de João. Imediatamente, o caso ganhou repercussão massiva nas redes sociais.

Sobre isso, acho interessante destacar dois pontos:

1. O desabafo sofrido de João pareceu ter desencadeado mais desconfortos dentro e fora da casa do que o comentário racista de Rodolffo.

2. O discurso de Tiago Leifert, homem branco, teve mais peso do que todas as explicações de Camila de Lucas e João Luiz.

Observo isso como uma pequena amostra de como é, de fato, a nossa sociedade. São reflexos, como disse anteriormente. Quer outro exemplo? Trago agora algo que aconteceu comigo. Depois de assistir a um festival de “brincadeiras” e comentários homofóbicos proferidos por participantes da casa, abri uma live para conversar sobre LGBTfobia no Brasil. 

Foi quando um perfil espectador disparou: “Se meu filho chegasse para dizer que é gay, eu mataria”. Exatamente, você não leu errado, ela falou que mataria.

Antes que digam que não é possível comparar um comentário como esse a “brincadeiras inocentes”, vamos ao ponto da questão: somos o País que possui o maior índice de mortes LGBTQIA+ do mundo, principalmente de pessoas transsexuais. Quando um participante, dentro do programa de maior audiência da TV nacional, faz comentários LGBTfóbicos (ou racistas, como no caso do João) e não é eliminado, corrigido ou punido pela produção, estamos imediatamente validando o fato de que ser preconceituoso ou ter atitudes discriminatórias passam impunes no Brasil. 

Estamos autorizando ações cruéis fora do reality, ofertando liberdade a quem falar ou agir com violência, afinal, “tudo não passa de mimimi” e “eles estão certos”.

Não! Não estão certos! Não existe a frase “Me desculpe SE te ofendi”. É preciso retirar esse “SE” dos pedidos de desculpa ou justificativas pífias. Ofensas acontecem. Acredito até que, para algumas pessoas, pode não haver intenção de ser racista ou homofóbico, mas é preciso entender que esses “valores” estão enraizados no Brasil desde o primeiro massacre de povos indígenas e precisa ser combatido. 

É preciso transformar o sistema opressor. Não espere que um branco te aponte o racismo que há em você, não espere que uma pessoa cis ou heterossexual te ensine a não ser homofóbico/transfóbico.

Fico com a frase de Camila de Lucas: “escute, reconheça, peça perdão e corra atrás de aprender para não cometer os mesmos erros”.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.