O teatro é a minha segunda casa. Acho que já falei isso algumas vezes aqui. Durante muito tempo, foi onde passei grande parte dos meus dias, foi onde me formei, me forjei, fiz amigos, fiz família. Os Silveros da TV e do Cinema, inclusive, devem suas conquistas ao Silvero do Teatro. Uma dívida inflacionada, de valor incalculável, que não há como pagar, mas que sigo orgulhosamente com o nome nesse Serasa da Cultura.
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E Teatro é assim: bom e é ruim, apaixonante e colérico ao mesmo tempo. Exige paciência, mantras, meditações, orações e tudo o que fizer o sujeito respirar fundo para aguentar as dificuldades e ultrapassar as barreiras da Cultura, senão você explode, esperneia, fica exausto, porque não é fácil ser um artista de teatro. Bom… eu não sou adepto a mantras e nem meditações, daí já viu.
Esses dias, fiz duas apresentações em Fortaleza, com meu show “Silvero interpreta Belchior”. No segundo dia, com ingressos esgotados, olhei para a plateia e vi, na primeira fileira, Paulo Ess - meu professor e grande mestre, que me ensinou tudo o que sei sobre artes cênicas. Me desconcentrei na hora, tive uma imensa vontade de chorar e recuperei o fôlego em seguida. Paulo olhava pra mim com admiração, cantando comigo todo o repertório. Aquela surpresa não poderia ser em outro lugar, tinha que ser em um teatro.
Dias depois, vejo Verónica Valenttino ganhando o seu primeiro Prêmio Shell de Teatro, na categoria Melhor Atriz por seu papel como Brenda Lee, no musical Brenda Lee e o Palácio das Princesas. Verónica, uma de minhas irmãs - não de sangue, mas de As Travestidas - erguendo seu troféu e gritando “Podemos, sim!” me emocionou demais. É a primeira vez que reconhecem pessoas trans em premiações desse tipo e, em menos de um ano, Vero ainda levou um Bibi Ferreira. E isso, acredito, só podia vir do teatro.
No último domingo, o Cineteatro São Luiz completou 65 anos - um senhor de idade cada vez mais moderno e longe da aposentadoria. Assisti muitos filmes por lá quando ainda era só “cine”, mas que maravilha é poder vê-lo como uma grande casa de teatro também. Foi neste palco que fiz minha estreia em Fortaleza interpretando Belchior e onde me despedi do coletivo As Travestidas - experiências que digo, sem dúvidas: só podiam ser nesse teatro!
Desde o dia 27 de março, Dia Mundial do Teatro, estou no Rio de Janeiro para a maratona de shows que estou fazendo por aqui. Adivinha onde eu passei toda a segunda-feira? Pois é, no teatro, gravando um projeto audiovisual que, em breve, conto mais detalhes. O que quero dizer é que tenho a sensação de que não importa o que eu esteja fazendo - atuando, cantando, gravando, dirigindo, produzindo - o Teatro está ali, por mim, pra mim, comigo, como um amigo fiel.
Já pensei em largar o osso várias vezes, deixar pra lá. Já acreditei que não voltaria mais para os palcos, mas o Teatro… O Teatro é um bichinho que quando pica a pele é irreversível. Daí eu volto, faço, me refaço, me jogo e percebo os olhares fixos daqueles que estão na plateia. Talvez seja essa a minha meditação, a minha oração, o que me faz respirar fundo e acreditar sempre.
Ao Paulo, Verónica e ao Cineteatro São Luiz, obrigada por também me fazerem acreditar. Viva o Teatro!
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor