Somos uma república eleitoral, que de dois em dois anos vai à urna. Para grande parte da população, a sua participação política na vida pública do Brasil, se resume a votar. Acaba uma eleição e já entramos no ano pré-eleitoral do pleito seguinte. E assim vivemos sequestrados pelo certame eleitoral.
O debate sobre os desafios e projetos de nação ficam em segundo ou terceiro plano. Isto para ser otimista! Hoje, por exemplo, temos muitos olhares sobre 2022 sem, sequer, considerar a construção de soluções para atravessarmos o mar revolto de 2021. O que é muito ruim.
Mas nem tudo está tão triste e cinza. Há um processo em curso, de transição dos protagonistas políticos em movimento. Se o clima está o pior dos piores, também, temos o melhor dos melhores, surgindo em diversas frentes, coletivos, iniciativas, rostos e causas.
E isso me anima e confere oxigênio em um cenário de asfixia pela ausência de uma agenda pública comum para a maioria do povo brasileiro. Nós da CUFA, como organização que busca pautar e ocupar o debate público sobre o País, levamos conosco a agenda da favela a todos os espaços possíveis, da academia ao ministro da economia, das grandes empresas aos homens e mulheres de negócios das favelas.
E assumimos este compromisso por entender que, não haverá mudança neste País, se ficarem excluídos do acesso à riqueza socialmente produzida, aqueles que a produzem com o seu trabalho, justamente, devido a brutal concentração de renda e poder nas mãos de poucos.
Das novidades e dos ativos que somamos durante a pandemia, a economia foi o campo onde mais avançamos, em compreensão, network, conteúdo e protagonismo. Agora, nos desafiamos a transitar numa atmosfera nova e provocante: o debate econômico. Esse tema, muitas vezes, fica restrito a uma casta – sim, nos moldes antigos - que define a vida do país com a sensibilidade de uma planilha de Excel. Acreditam que vida e economia são palavras rivais e consideram as pessoas apenas números. Entretanto, em todo ambiente há diversidade e contraponto, o que é saudável, necessário e legítimo em um país continental diverso e desigual com o Brasil.
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Daí veio a minha aproximação com o time do Conexão Xangai - formado pelos craques Paulo Gala, Elias Jabbour, Uallace Moreira e André Roncglia - a que tenho profunda estima, apreço e consideração pela disposição à escuta e ao diálogo fraterno. Para saber mais sobre estes monstros, com uma agenda econômica fundada no cuidado das pessoas, na qualidade da elaboração teórica e técnica, e na sensibilidade com as questões sensíveis para o País, indico o livro recém-lançado “Brasil, uma economia que não aprende”, no qual apontam novas perspectivas para entendermos os motivos do fracasso econômico brasileiro.
Com base no livro e nas ideias trocadas, destaco alguns elementos quanto ao impacto das escolhas e modelos econômicos dos países, principalmente, as diferenças positivas produzidas pelas grandes economias que investem em tecnologia e pesquisa. Já o Brasil parou no meio da estrada, desindustrializou-se, gerando uma massa de precarizados que “vivem se virando”. A novidade empreendedorismo, termo da moda de uma economia do “salvem-se quem puder”, mas que a favela já pratica há séculos.
Viver no precário faz parte de nossa história, um dia de cada vez em que vendemos o almoço para pagar a janta. Esse é o cenário de um país em que o Estado se exime da sua função de estimulador econômico na base da pirâmide.
Basta olharmos o número de pessoas nas favelas que agora são formadas e com qualificação, mas estão sem emprego, sobrevivendo por meio de extenuantes jornadas em aplicativos de transporte ou comida para levarem alguma moeda para casa. É uma obra fundamental que vale muito a pena ser lida e me comprometo a indicar mais leituras bacanas para que essa coluna seja um ambiente de ideias, saberes e conhecimentos de toda a ordem. Um ecossistema de respeito às diferenças e com disposição para construção de uma agenda pública comum para o país. A Favela tá no economês, e que se abram as planilhas, pois nós estamos entrando!
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor