Essenciais para servir. Prioritários para vacinar?

Publicitário do asfalto sugeriu álcool em gel 
e propôs: “fiquem em casa”! 
Mas muita gente na favela
sequer tem sabão e água. 

Isolamento social só o racismo consegue. 
De onde eu vim, somos isolados de direito básicos. 
Na TV, vidas são apenas números.  
E a vida segue. 

Se eu tô com medo? Demais!  
Mas nunca foi de sairmos da rua. 
Entre as várias formas de sobreviver e morrer, infelizmente, no Brasil desigual, 
A pandemia é só mais uma. 

HUMANOS invisíveis ao orçamento,  
quando se fala em retomar economia,  
pobre, preto, favelado é sempre gasto,  
nunca potência, é visto como investimento. 

Dona Fátima me contou que uma amiga morreu sem vaga na UTI, em casa. 
Deixou filhos, histórias.  
Mais uma Vida cancelada. 
Enquanto a insanidade de rebanho  
Faz balada escondida na madrugada. 

É NOSSO filme DIÁRIO de horror,  
de dor, de desamor. 
Nessa vida sem eira nem beira,  
A da merendeira é tão prioritária quanto a do professor? 
 
O ambulante, o camelô, o povo do ônibus, do trem ou do metrô,  
são essenciais para o funcionamento da nação. 
Essenciais para servir? Sim! 
Prioritários para vacinar? Não! 

Gente decente que é essencial para servir, 
Mas é exposta ao risco, sem garantias. 
Espremida entre o risco do vírus 
E as desigualdades do dia a dia. 

A bomba relógio faz tic tac. 
A paciência fica pouca, a voz rouca 
Emergencial é para ontem,  
Não em câmera lenta, uma merreca, a conta gotas. 

Colaboração é união para sairmos desse labirinto, 
Favela deu lição de equilíbrio até aqui,  
Mas ver filhos chorando de fome, desespera qualquer cidadão. 
Melhor dividir riquezas e oportunidades, do que entrarmos todos em convulsão. 

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.