Série inglesa Heartstopper dá dignidade à pessoa LGBTQIA+

Assim como o racismo, a cis-heteronormatividade também torna invisível a vida de milhões de seres humanos

Peço aos leitores licença para dar uma pausa nos assuntos do Cariri. É por um bom motivo...

Num mundo que às vezes parece se encaminhar para tornar realidade "O Conto de Aia", a série "Heartstopper" leva esperança a quem acredita numa vida melhor. A descoberta do amor vivida por colegas de sala de aula é uma das histórias mais vistas na Netflix. Há alguns motivos para o sucesso. O principal deles é que, de forma sutil, o casal Charlie e Nick revoluciona a forma como pessoas LGBTQIA+ sempre apareceram e ainda aparecem em produções audiovisuais.

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Assim como o racismo, a cis-heteronormatividade também torna invisível a vida de milhões de seres humanos. É algo ainda mais evidente no Brasil. Um exemplo: ligar a TV e não ver ninguém fisicamente parecido ocupando posições profissionais de destaque. É uma sensação escandalosamente comum. Como explicar tanto apresentador de semblante nórdico neste país com a segunda maior população negra do mundo, atrás só da Nigéria? 

Acontece o mesmo com as pessoas LGBTQIA+. Quando aparece na TV ou no cinema, quem destoa do ideal cis-hétero tem a história quase sempre reduzida a esteriótipos e/ou tragédias. Em 1998, o casal Leila e Rafaela foi literalmente explodido no shopping de "Torre de Babel". Claro, alguma coisa mudou de lá para cá. Em 2014, houve Félix e Niko em "Amor à Vida". 

Mas a evolução é lentificada pelo preconceito presente nas estruturas da sociedade. A LGBTfobia torna impossível o amor até no realismo-fantástico, a exemplo do casal gay de bruxos formado por Alvo Dumbledore e Gellert Grindelwald. Faltou criatividade à talentosa J. K. Rowling para presentear os bruxos com um casamento, algo tão comum aos casais héteros? A escritora pensará numa bruxa trans nos próximos episódios de "Animais Fantásticos"? A indústria audiovisual deve ter responsabilidade social. E é talvez esse o maior legado de uma série como "Heartstopper".

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O casal gay é protagonista e está tudo bem. O casal de lésbicas também é feliz e está tudo bem. A menina trans consegue mudar de escola, se apaixona por um amigo e vive em paz. Profissionais do audiovisual com coragem fazem como foi feito em "Heartstopper", mostrando que pessoas LGBTQIA+ têm o direito ao amor e à felicidade. 

Mas como os profissionais do audiovisual vão ser inclusivos se a indústria ainda é predominantemente conservadora? Há caminhos: conquistar financiamento para levar o produto ao público (porque há consumidores interessados, sim) e mudança política para mexer na estrutura. 

É questão de dignidade! Que ninguém duvide: o audiovisual inclusivo ajuda a tornar o mundo mais justo.