O caririense vai ao mar no bate e volta de topic

Canoa Quebrada, Majorlândia e Morro Branco estão entre os principais destinos

Legenda: Praia do Icapuí
Foto: Ph

O Cariri já foi mar, mergulhado numa espécie de braço do oceano que avançou no tempo dos continentes unidos que se apartavam. É o que afirmam os paleontólogos. E uma prova são os peixes fossilizados expostos no Museu Plácido Cidade Nuvens.

Hoje, a costa marinha passa longe da Chapada do Araripe. A mais de 450km. Faz uma falta! Tanto que o litoral leste do Ceará virou a praia do Cariri. É o mais próximo do miolo do Sertão. Todo fim de semana, saem excursões para Majorlândia, Canoa Quebrada e Morro Branco.

Veja também

São os principais destinos do tradicional bate e volta: a viagem que cabe num fim de semana da classe trabalhadora. A topic sai do Cariri na noite de sábado. Chega na alvorada de domingo. O raiar do sol anuncia um dia de alegria e muita brisa, refresco do calor continental.

O caririense ocupa a praia por horas: banho de mar, peixe assado, bebidas geladas, namora, anda de buggy, atualiza as redes sociais. E ainda há um ponto de apoio para uma ducha de água doce antes de voltar. A excursão em si custa em média 150 reais, talvez um pouco mais. Comida e bebida são pagas por fora.

A volta é no final de domingo, chegando ao Cariri no meio da madrugada. Na segunda-feira, vai-se trabalhar com aquela preguiça da noite mal dormida, porém com o bronzeado em dia. Os amigos, as famílias, os casais construíram memórias, arrocharam os laços, descansaram as mentes.

Para lá de Majorlândia

Este colunista é adepto de bate e volta desde criança, quando era levado por parentes. Já até ajudei na organização de um, para o Festival de Inverno de Garanhuns, em julho do ano passado. A história é outra e pouco promissora. Fica para um momento adequado. O assunto hoje é no sentido invertido, rumo ao litoral.

Só que, dessa vez, foi mais que um bate e volta. Pude dormir perto do mar. E o destino também era diferente do que costumava fazer. Para lá de Aracati, a mais de 30km, fica Icapuí, com suas praias deslumbrantes e relativamente quase desertas.

Conheci a Peroba, cercada por falésias e que tem como principal característica as pedras que cortam o mar azul. Vizinha está a Redonda, com a duna do lado esquerdo, aquela mesma que é possível ver de longe lá de Canoa Quebrada.

São praias sem barracas ocupando faixa de areia. Lugares onde se encontram moradores, pessoas que vivem ou veraneiam no local. Nada daquela badalação da Broadway. Icapuí é lugar para descansar.

O avanço do mar

Em Icapuí reencontrei um prato que há muito procurava em outras praias: o bijupirá, o pescado mais suculento do Nordeste. Entendi também porque é a terra da lagosta.

É um lugar de alegrias, mas também com suas agonias. E uma delas está ligada justamente ao mar. As praias de Icapuí têm sido engolidas. Na Redonda, construíram uma barreira de pedras que parece ter amenizado a situação. Já na Peroba há um debate sobre a solução mais apropriada: rochas ou madeira. 

Enquanto isso, sem estrutura, a ida à praia é feita por caminhos inacessíveis a idosos e pessoas com mobilidade reduzida. Há casas e pousadas com os estacionamentos interditados.

E há outra agrura, esta enfrentada por todos que somos do Cariri, independentemente do destino no Litoral Leste: a BR-116. É só buraco no trecho entre Icó e o portal do açude Castanhão, em Jaguaribara. A viagem, que já dura intermináveis 6 horas, fica ainda mais cansativa.

Quem vive no Cariri enfrenta batalhas para ir ao mar, aquele que, dizem, já nos banhou. Como nos faltam asas de pterossauros, restam-nos topics e BRs para vencer antes do sonhado banho salgado no Atlântico.

O DNIT informou a esta coluna que está nas tratativas finais para assinatura do contrato de manutenção com a empresa que ficará responsável pelos serviços do trecho questionado. A previsão é de que o contrato seja assinado até o final deste mês para que os trabalhos no segmento iniciem ainda em dezembro.