É tempo de renovação no Cariri

13 de dezembro, dia de Santa Luzia, está entre datas mais escolhidas por quem renova devoção no Sagrado Coração de Jesus

Escrito por
Paulo Henrique Rodrigues (o Ph) ceara@svm.com.br
Legenda: Em Jamacaru, Santa Luzia tem festa grande, já que é copadroeira do distrito de Missão Velha, no Cariri
Foto: João Juarez Santana/ divulgação/ Pascom da Paróquia Nossa Senhora das Dores

A renovação existe desde o século XIX e talvez apenas no Cariri cearense. Foi incentivada pelo padre Cícero Romão Batista. É uma espécie de encontro entre amigos e familiares, como o Natal e a Páscoa, mas envolvendo outros símbolos.

Conforme a historiadora Fátima Pinho, o nome renovação surgiu da seguinte forma: a pessoa compra ou ganha uma imagem do Sagrado Coração de Jesus. Ela é colocada num lugar especial da casa através da chamada entronização, ritual simbolizando que aquele é um lar católico.

Veja também

A partir daí, a renovação passa a ser feita todo ano como forma de renovar esse primeiro compromisso com o Sagrado Coração de Jesus. A data depende de cada família. 

Para os moradores de Juazeiro do Norte, Maria de Fátima dos Santos e José Geová da Silva, a boda virou dia da renovação. Em 2023, ainda mais especial, porque os aposentados completam 50 anos de união.

"Eu ensinei a renovação ao Sagrado Coração de Jesus para os meus filhos e também ensino para os meus netos. É uma tradição que aprendi com os meus pais", disse dona Fátima. Já seu Geová, que é pernambucano, conta que só conheceu a celebração aqui no Cariri.

Dia de Santa Luzia

Este 13 de dezembro é conhecido popularmente como a data das renovações. Por algum motivo, a mártir italiana protetora da saúde dos olhos é celebrada no Cariri com esses encontros.

"Ela foi escolhida como uma intercessora junto ao Sagrado Coração de Jesus", afirma o missionário Rosivaldo Pedro, que "tira renovações", como se costuma dizer. Ele é convidado pelas famílias para visitar as casas no dia da renovação e liderar as rezas.

Há quem vá só para comer

É um momento religioso, de reencontro da família, mas também regado a muita comida. Para receber os visitantes, há quem ofereça um jantar ou um café da tarde, com bolo, salgado e uma bebida chamada aluá, que tem como base abacaxi fermentado e açúcar. 

Esse hábito de oferecer quitutes acaba revelando os mais propensos ao pecado da gula. São aqueles convidados que já chegam à renovação descobrindo as panelas, curiando o que é de comer. Esses ficam famosos entre os convivas, sobre quem sempre se comenta: "eita, fulano adora renovação, mas vai só para comer".