Se não sobrasse nada, exceto a morte iminente e a luta pela sobrevivência, quanto restaria de nós, seres humanos? O 3º episódio de 'The Last Of Us', lançado na noite de domingo (29), é repleto dessa dúvida. As tristezas que envolveriam o fato de nos perdermos como humanidade estão ali, as relações que seriam esmagadas diante de um perigo tão absurdo como o da série também e até a sensação amarga de como estamos sozinhos, indefesos no mundo.
Essa pode parecer uma reflexão profunda demais para uma série adaptada de um jogo, mas se em 2013 o primeiro produto dessa história já fazia isso, o segundo faz com ainda mais maestria agora em 2023. O terceiro entre nove episódios feitos, lançados pela HBO, usa a atmosfera apocalíptica dos zumbis para trazer sentimento às telas.
Na história, Ellie e Joel, interpretados magistralmente por Bella Ramsey e Pedro Pascal, continuam em uma saga de passagem pela América em meio a uma pandemia, responsável por destruir a raça humana por conta de um fungo. O medo de ser atacado e as informações sobre como o fungo se reproduz estão nos dois primeiros episódios, dando espaço, dessa vez, para entender as consequências de tudo.
Caso você já tenha conferido o terceiro episódio, te convido a uma discussão meio louca - esteja avisado - sobre tudo o que a história tem proposto até aqui. E, claro, para isso vamos precisar de alguns detalhes para continuar. Ou seja, cuidado com os spoilers!
Nessa jornada dos protagonistas, o que se vê com frequência é a destruição. Edifícios destroçados, carros quebrados, natureza sem brilho: nada parece fazer sentido em um universo no qual nós, humanos, nos destruímos até que nada reste.
Apesar de enxergar isso em cada esquina da série, o que também já havia sido visto no jogo, a mensagem aqui toca em lugares complexos, nos fazendo questionar o que há dentro de cada um de nós.
Em uma cena, Ellie vê, mesmo com a negativa de Joel, uma espécie de cemitério com corpos jogados, esqueletos ao ar livre. Entretanto, a personagem acaba descobrindo que essas pessoas sequer estiveram doentes em algum momento, mas foram mortas pela FEDRA, responsável por escolher quem merecia ou não abrigo diante do fim do mundo.
Qual a necessidade de matar pessoas não infectadas? Porque destruir o próximo, claramente em busca pela vida, quando a morte já aguarda? Em uma meia resposta, Joel responde a Ellie o óbvio. Tudo não passa de uma precaução para que pessoas deixadas a esmo também não fossem infectadas. Ainda assim, a tristeza é perceber que priorizamos, acima de tudo e todos, a nós mesmos.
Bill, personagem sem tanta importância, mas exaltado pelos fãs do game, surge como o catalisador dessa experiência em forma de episódio. Ele ganha contornos e história diferentes da produção da Naughty Dog, sendo importante para toda a carga dramática que consome tudo aqui.
A relação entre ele e Frank, inclusive, nos explicita como as relações humanas no geral nos mantém de pé e, quando faltam, só aceleram o nosso fim, repleto de tristeza e angústia. Destaque óbvio para as atuações, responsáveis pelas lágrimas, suspiros e até sustos a cada cena.
Na real, podemos até nos engrandecer perante as ameaças que nos circundam, mas lutar pela vida sem o mínimo de esperança parece algo fraco pelo qual é difícil de lutar. Sobre o destino dos dois, encontrados mortos, cada um pode inferir algo e talvez isso seja o mais triste nesse caminho de cada percepção.