Um belo dia resolvi sair de mim: “valeu cara, mas não tá dando mais”. Troquei as roupas, larguei o apego, mudei sonhos, ampliei os antigos, me apeguei a Deus como melhor amigo, peguei um hábito bom de cada pessoa que convivo.
Desisti de desistir, não dá tempo. Há o que sonhar, há o caminhar. De pés no chão, mas inteiramente submersa. Para tantos lugares que a vida nos leva, resolvi tomar as rédeas e decidir quais serão eles.
A vida não me leva mais para qualquer lugar. Eu a levo para os caminhos que são necessários - às vezes sofridos, às vezes felizes - e os do coração. Eu a escolho, eu a exploro, eu a vivo intensamente.
Aquele paradoxo da intensidade que nos faz sentir o sofrimento mais forte e que também nos faz sentir, até fisicamente, a felicidade.
Vivo um caso de amor com essa vida, tentando equilibrar meu amor passional e minha racionalidade como um caso de amor de um filme.
Viaje (se der), ame, coma, converse, reze, sorria. Ame outra vez, sonhe outra vez. Que tenhamos a graça de amar o ordinário, o diário, o que está na frente, o disponível. Que nada seja só para nós. E que vejamos sempre beleza em tudo. Não só por otimismo, mas porque há, de fato, beleza em tudo.
“É pecado sonhar?
- Não, Capitu. Nunca foi.
- Então por que essa divindade nos dá golpes tão fortes de realidade e parte nossos sonhos?
- Divindade não destrói sonhos, Capitu. Somos nós que ficamos esperando, ao invés de fazer acontecer”.
Machado de Assis em Dom Casmurro.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.