“Onde está seu tesouro, ali está seu coração”. Carrego esse dito comigo.
Vim do Ceará para Recife num rompante. Encontrei alguém legal, ele morava por aí, mudou de trabalho, teve que vir. E eu larguei tudo e vim. Não foi tão heroico quanto parece, mas podemos falar disso outro dia.
Alugamos um apartamento que eu adorava, ok que, sim, alugado. Um pouco limitada para trocar coisas desse apartamento, eu trocava o que dava – achávamos que sairíamos de lá em pouco tempo. E a mágica se fez. A casa tinha nossa cara. Que importava o aluguel a partir daquele momento quando tudo parecia tão nosso?
Dois anos se passaram e há três meses nos mudamos. E naquela casa, por dois anos, esteve meu coração e, portanto, lugar que guardou meus tesouros.
Sem esquecer tudo maravilhoso de material que ganhei, deixo esse espaço para lembrar dos meus tesouros eternos que estarão para sempre comigo: minhas lembranças, memórias, as lágrimas que chorei de alegria e de tristeza, minha respeitável solidão nos primeiros dias do meu para sempre longe da minha terra, meu pedido de casamento no sofá (esse eu trouxe comigo), cada plantinha, a primeira árvore de Natal, a chegada da Arya, nossa cachorrinha adotada, teoricamente muito grande pra esse apartamento (em poucos dias, ele ficou enorme para ela, como se coubessem mais mil).
Entramos dois e saímos quatro. O amor faz isso. Ele amplia. E a saudade faz isso: ela aperta. E hoje, lembrando o glittler dos meus carnavais nesse apartamento, a mancha do vinho que caiu na parede que já foi coberta, as vezes em que briguei no corredor e fui para o quarto chorar, as vezes em que abri a porta com uma mesa posta e um cartaz de feliz aniversário, hoje, sim, esse apartamento pareceu pequeno demais e vazio demais (ah, a finitude das coisas... por que elas não são eternas?).
Meu tesouro agora está aqui, algumas quadras depois, no mesmo lugar que está meu coração. Esse que sempre carrego comigo por onde vou, mesmo que, por onde eu passe, um pedaço dele fique.