Hoje é um dia de estreia

Legenda: Virei adulta, pensei em gripe, pensei em frio, pensei em ficar em casa
Foto: Pexels

Pense aí em uma frase piegas que é super verdadeira e tenho que concordar: “hoje é o último dia do resto da sua vida” . Aff, eu detesto coisa piegas. Mas é bem piegas também querer ser diferentão sempre, né? Há coisa piega que é boa mesmo e pronto.

E essa frase é fantástica. Parece um pouco dramática, mas que bolha é essa em que vivemos se não num filme de drama com pitadas de comédia e suspense?

Vida essa de dias contados e que hoje estreou, assim que você acordou, o primeiro dia do resto dela.

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Se o que queremos é viver uma vida comum até o final dessa vida, maravilhoso. Mas podemos viver também (sem grandes entusiasmos sempre, por favor, passei dos 30) como se todo dia fosse uma estreia. Para fazer as coisas pela primeira vez, para sair da mesmice, para tirar aquele plano do papel.

Como fazer isso é a grande sacada, né? Decidir pelas coisas é um processo, depende de trabalho, do chefe, de como podem ser feitos de um dia pro outro...

Como posso viver minha grande estreia se dependo de tantos fatores para tal? E por que não pequenas estreias?

Semana passada estava dirigindo, parei para esperar o semáforo abrir. Estava chovendo. Havia uns 10 caras atravessando a rua como se tivessem vindo a pé da praia. Dois deles pararam na faixa de pedestre e ficaram jogando embaixadinha no meio da chuva, até o sinal abrir. Quando chegou perto de abrir, eles saíram e acompanharam os outros oito e foram embora.

Vou contar pra vocês: eu fiz tanto isso e há tanto não faço mais. Virei adulta, pensei em gripe, pensei em frio, pensei em ficar em casa. Pensei em tudo isso sempre que choveu desde muitos anos. Choveu na praia uma vez e eu fui embora. Lembro que eu amava tomar banho de mar com chuva.

A gente envelhece, vai ficando cada vez mais perto do último dia e cada vez mais longe da pessoa leve que fomos. Que contradição. Esquecemos que hoje é o primeiro dia. O primeiro de todo o resto, a estreia do resto. Que pode ser dentro do carro, sendo público igual a todos os dias, ou simplesmente sentindo a chuva em meio a uma plateia.