É impossível ignorar a repercussão que os debates políticos tomaram nesta semana. Cientistas políticos, jornalistas e eleitores não pouparam seus feeds de opiniões. A performance de candidato X, as mentiras do Y, a lacração do Z, as supostas incoerências e brilhantismos – tudo foi analisado, confirmado, contra-argumentado.
Apesar do tsunami monotemático de postagens, que pode levar alguns à impaciência e saturação, a importância do espaço de enfrentamento entre os candidatos é inegável. O debate público fomenta o exercício da democracia e a conscientização política.
Neste espaço, a habilidade de comunicação é inerente ao bom debate. A boa oratória e retórica não são meros diferenciais, mas condições sine quo non para os (possíveis) representantes do povo.
Contudo, atentas aos estudos científicos, suas equipes compreendem que a comunicação não-verbal ocupa lugar de destaque na eficácia de um discurso – podendo alavancar ou destruir um candidato. Assim, cada detalhe é pensado: a postura, a roupa, a caneta utilizada, os símbolos portados – tudo importa, principalmente na era digital, na qual cenas são reprisadas e compartilhadas milhões de vezes.
A atenção meticulosa aos detalhes não necessariamente é uma manipulação malévola. Pelo contrário, pode ser um meio legítimo e eficaz de acessar mais facilmente o interlocutor. Entretanto, sabemos que meios duvidosos também são utilizados na arena – fake news, ofensas pessoais, desonestidade, entre outros...
As técnicas perniciosas para captar eleitores, a esquiva das perguntas e o redirecionamento de foco de atenção para onde mais convém esvaziaram a riqueza dos debates. O espaço compartilhado se transfigurou em um lócus de propaganda e acusação.
Presenciamos um compartilhamento de monólogos - nada de novo no front. É compreensível, ainda que injustificável, o uso dessas táticas por alguns candidatos. Afinal, há um claro objetivo ao comparecerem na arena: ganhar.
Do outro lado da tela, muitos eleitores não parecem incomodados com tais posturas. Ao contrário, as mimetizam: indisponíveis para escutar, assistem ao debate para confirmar as próprias crenças. Nas redes, não trocam ideias, não refletem, apenas reproduzem o padrão de ação dos candidatos (por vezes, duvidosos).
Reflito um minuto. E se a ordem for inversa? Talvez, os candidatos apenas reproduzam, em rede nacional, os comportamentos de seus eleitores, que, como Narciso, acha feio o que não é espelho; como Narciso, apaixonado pela própria imagem, afoga-se. A ordem dos fatores não altera o produto – invariavelmente, perdemos.
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.
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