Uma medalha de prata que consagra uma caminhada quase perfeita. Invicta até a final olímpica, a seleção feminina de vôlei perdeu justamente na última partida, contra um adversário poderoso, os Estados Unidos. Mas o 2º lugar nos Jogos é motivo para celebrar. Destaque na campanha, a oposta Rosamaria contou, em entrevista à coluna, sobre a trajetória até o pódio, os desafios enfrentados e adiantou que os preparativos para as próximas Olimpíadas já começaram.
“Novidade” na primeira convocação do ano, do técnico José Roberto Guimarães, em abril, Rosamaria teve seu retorno à seleção, após ter conversado para não ser chamada em 2019. Em 2020, a seleção não se reuniu, por conta da pandemia do coronavírus. A atleta explica que a escolha de não participar da temporada, em 2019, foi pensando nas Olimpíadas, que seriam no ano seguinte. À época, ela estava encarando seu primeiro desafio fora do País, ao defender o clube italiano Perugia, decisão tomada buscando evoluir como atleta e alcançar o seu melhor desempenho. A primeira temporada no exterior não foi concluída por conta da pandemia. A segunda, já em outro time, o Casalmaggiore, também ficou pelo caminho pelo mesmo motivo. Apesar disso, Rosa só evoluiu, foi destaque em pontuação e se firmou como oposta.
Voltou à seleção muito focada. Na Liga das Nações, disputada entre maio e junho deste ano, Rosamaria era reserva, mas sempre que entrou, chamou a responsabilidade e foi decisiva. É uma jogadora que quer jogo, chama a equipe e energiza o grupo quando preciso. Talvez esteja aí o grande diferencial que a levou à lista das 12 atletas olímpicas, já que, até então, outros nomes disputavam a posição. “Eu sempre tive esse perfil e faz muita diferença. Além do físico, técnico, tático, tudo, a gente tem que querer muito. Nesse nível, a gente disputa com os melhores do mundo. Tudo faz diferença”.
Dessa vez, a seleção chegou às Olimpíadas sem o peso do favoritismo ao ouro. Teve um ciclo conturbado, mas figurava entre as cinco potências candidatas ao pódio. Rosamaria conta que as jogadoras buscaram não se preocupar com o que era falado e focaram no trabalho: “Eu acho que existe o peso do favoritismo e existe o peso da desconfiança também [..] Acho que a gente trabalhou com a realidade. E trabalhamos! [..] A gente trabalhou pra buscar o nosso melhor e conseguiu desenvolver isso como equipe.”
Como equipe, a seleção se firmou. Seja através das transmissões ou das redes sociais das jogadoras, era possível perceber a união entre elas e o quanto queriam se superar, chegar o mais longe possível. Rosamaria destaca: “O nosso time mostrou durante toda a nossa preparação que a gente não dependeria de uma ou de duas, que a gente dependeria do time inteiro.”
E foi preciso contar com um banco em muitas oportunidades. Nas inversões de 5-1, principalmente quando Rosamaria e Roberta entravam nos lugares de Macris e Tandara, respectivamente. Isso até o dia da semifinal, na última sexta-feira (6), contra o Comitê Olímpico Russo, quando Tandara foi cortada por testar positivo em exame antidoping e a camisa 7 assumiu a titularidade. “Eu tava ali o tempo inteiro preparada, esperando a oportunidade de ajudar o time quando fosse necessário. Claro que ninguém ficou feliz com essa notícia [do corte], muito pelo contrário, a gente torce pra que ela consiga provar a inocência dela. Mas o time tava muito focado na medalha mesmo, em ir pra uma final.”
No primeiro jogo como titular, a vitória foi tranquila por 3 sets a 0 contra a Coreia do Sul. O grande desafio seria o próximo: a reedição de duas finais olímpicas contra os EUA. O Brasil não se encontrou em quadra e a vitória não veio. Mas Rosamaria reconhece o valor que teve esse segundo lugar:
E quem pensa que o momento agora é só de descanso, se engana. O próximo desafio da seleção é o sul-americano, que acontece entre 15 e 19 de setembro. Vale lembrar que o ciclo olímpico até Paris 2024 será mais curto, de apenas três anos. Rosamaria conta que isso faz muita diferença:
Na próxima temporada de clubes, Rosamaria vai reencontrar um velho conhecido no comando de sua futura equipe, o Novara: Stefano Lavarini. Ela explica que esse foi um dos motivos que a levaram a optar pelo clube, que briga pelo topo, na Europa.
O bom desempenho dentro de quadra vem refletindo também fora dela. Rosamaria é a única jogadora da seleção a ter mais de um milhão de seguidores e conta como lida com todo esse reconhecimento: “Fiquei bem feliz, é legal. Porque, principalmente, nesse momento de pandemia, a gente não tem contato com o torcedor, né? Então é uma maneira da gente receber carinho e tentar retribuir também.”
Natural de Santa Catarina, a atleta de 27 anos já esteve no Ceará algumas vezes. A última competição que disputou por aqui foi a Supercopa, em novembro de 2018. A oposta destaca a relação com o Estado e as lembranças do povo cearense:
A trajetória de Rosamaria fortalece o exemplo da persistência e paciência. Soube abrir mão para esperar pelo melhor momento de voltar à seleção. Em quadra, sempre quer muito o resultado positivo, transborda garra e força de vontade que contagia o grupo. No novo ciclo olímpico que se inicia, tem tudo para ser referência e consolidar a titularidade como oposta da seleção brasileira.