A luta das mulheres é por espaço dentro das quatro linhas e respeito fora delas

Em pleno 2020, o mínimo de igualdade que começa a surgir em relação às diárias pagas pela CBF, por exemplo, esbarra na falta de representatividade, quando um clube resolve contratar, com status de ídolo, um atleta condenado por estupro

Ser mulher, no Brasil, é lutar diariamente por respeito e espaço. No esporte e, especialmente no futebol, essa batalha é ainda mais árdua. É querer o direito de praticar e torcer, e a possibilidade de se sentir representada e identificada com aquilo que se aprecia. Aos poucos (bem poucos), o lugar de todas nós vem sendo conquistado.  

Este ano, por exemplo, a Confederação Brasileira de Futebol anunciou a igualdade entre diárias e premiações para os dois gêneros. Além disso, duas mulheres passaram a coordenar a seleção feminina. As conquistas são celebradas, principalmente, se retornarmos a um passado nem tão distante, quando no país do futebol, as mulheres eram excluídas.  

Foram quase quatro décadas (1941 a 1979) vigorando um decreto que proibiu a prática por pessoas do sexo feminino. Os anos de proibição refletiram no desenvolvimento da modalidade. Apesar disso, os destaques são natos por aqui. Marta, a maior de todos os tempos, foi eleita seis vezes a melhor jogadora do mundo - conquista que não a deu respaldo ou patrocínio equivalentes aos principais jogadores da categoria masculina. É tanto que, como forma de protesto, jogou a última edição da Copa do Mundo sem patrocínio nas chuteiras. 

Futebol feminino
Legenda: Marta simboliza a luta por igualdade de gênero no futebol
Foto: Divulgação

O percurso a ser corrido dentro do campo é grande e caminha lento. Enquanto até cogitaram readequar as medidas físicas de linhas e traves, o que se quer é readequação nos direitos, tratamentos e possibilidades. O fato é que, para garantir direitos iguais, não adianta chegarmos apenas a resultados equivalentes, mas superá-los. 

Fora do campo, quando se pensava haver trilha equivalente, um baque! Em meio a campanhas de combate à violência contra mulher e lutas constantes por igualdades, uma contratação tem repercutido nos últimos dias. O Santos anunciou o retorno de Robinho, cria da Vila Belmiro, com o status de ídolo. O atleta, no entanto, tem contra ele uma condenação na Itália, a nove anos de prisão por violência sexual, em 2017. Isso parece ter sido ignorado pela diretoria e trouxe à tona, mais uma vez, a mensagem que, no futebol, as mulheres não importam tanto assim. Ver em campo, livre e aclamado, alguém que violentou uma de nós traz o sentimento de não-pertencimento, de desencanto por aquilo que despertaria magia e interesse.  

Ser mulher no esporte é aprender que os dribles vão além do gramado e se projetam para a luta constante. Cada conquista mais parece um gol de bicicleta, mas rotineiramente sofre com rompantes como uma bola do adversário na rede aos 47 minutos do 2º tempo.