No início de 2021 muitos fãs ficaram abalados com a notícia que a eterna rainha do rock, a cantora Rita Lee, estava enfrentando tratamento contra um câncer no pulmão. O que para muitos poderia significar uma pausa na carreira, a artista fez ecoar como um recomeço, com ainda mais ânimo, garra e entusiasmo.
Mesmo estando afastada dos palcos há alguns anos, isolada muito antes da pandemia começar em um sítio na Grande São Paulo, a cantora agora lança um novo single em parceria com o marido e músico Roberto de Carvalho. De nome “Change”, a letra audaciosa que mescla o inglês e francês chega às plataformas de streams amanhã, 27 de setembro. A faixa sai do jejum de inéditas da artista desde 2012 e tem produção do DJ Gui Boratto.
As novidades da carreira de artista não param! Na última quinta-feira, 23, Rita Lee ganhou uma exposição sobre sua vida no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, o que reforça que a vida da veterana deve ser celebrada como eterna menina que renasce conforme a juventude do seu som.
“Se o Papa é Pop, Rita é Rock” e o rock também não poupa ninguém. Com trajetória revolucionária repleta de mais altos que baixos. A artista segue dentro da imagem de um Brasil que precisa ressurgir urgentemente para contestar o que parece uma verdade ilegítima. Conhecer um pouco da sua trajetória é lutar por tudo isso.
Sempre atemporal
Rita Lee Jones já nasceu com o nome de roqueira. Descendentes de imigrantes norte-americanos confederados do Alabama e do Tennessee e de imigrantes italianos da região do Molise, a menina parecia prever a vida de sonhos e questões que aquela então garota ia traçar.
A paulista sempre teve contato com a música, desde muito cedo aprendeu vários instrumentos, além de ser poliglota. Na adolescência participou de conjuntos musicais amadores, até integrar o “Six Sided Rockers” ou “Os seis”. Como tudo tem seu início meio fim, o grupo acabou, mas “para se tornar maior”.
No começo da década de 1960 surge a banda “Os Mutantes”, com Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias. Logo o trio conquistou os festivais de música, em especial o de 1967 quando acompanharam Gilberto Gil na interpretação de Domingo no Parque. Vale lembrar que nesse período a televisão estava se consolidando no país, e os programas musicais.
Após o término do grupo a compositora não parou e consolidou seu nome na história do nosso cancioneiro popular nos anos seguintes. A década de 1970 foi fundamental na sua carreira, porém não foram anos fáceis. Digo isso, pois em 1978 a artista foi presa grávida pelo Regime Militar por porte e uso de maconha.
Mesmo alegando que aquilo era resto do que os amigos utilizavam e, devido a gravidez, ela não estava mais tendo contato com a erva, Rita ficou presa por um ano em casa precisando de autorização judicial para realizar shows e até ir em uma consulta médica.
Nada cala voz da roqueira
Se nem a árdua e ferrenha ditadura militar calou a artista o tempo é que não iria fazer isso. Rita Lee é dona de uma liberdade invejável, que muitos desejam mas poucos têm a coragem de lutar por ela. Sua música traduz a cabeça inquieta e cheia de tesão e manias pelo inusitado.
Entre idas e vindas com o esposo Roberto de Carvalho, a compositora paulista não deixa nem mesmo o câncer calar seu entusiasmo daquela que é dona da própria caminhada e faz o que quer com a vida, até saber entrar e se retirar dos palcos. Mesmo anunciando aposentadoria, certos artistas nunca penduram as chuteiras, apenas se resguardam para projetos mais empolgantes.
Amanhã, dia 27 de setembro, podemos esperar mais um single ousado, livre e até mesmo comovente, anunciando o voo de uma fênix da música popular brasileira e que nada nem ninguém irá acabar.
A vida e obra de Rita Lee é fantástica e resgatar essa história é salvar um Brasil que sofreu, venceu e não pode ser esquecido. É exaltar o olhar dos fortes que acreditam que o amor e arte seguem sendo chaves para mundos de constelações luminosas onde o pão, a educação, música e democracia sejam realidades.