Copa do Mundo: quando o futebol rima com música

Hinos, hits e outras canções formam a alegria do brasileiro quando a seleção entra em campo

Legenda: Pelé vibrando na Copa de 1970
Foto: Divulgação

“Samba, carnaval e futebol” é uma visão estereotipada do Brasil para o resto do mundo. Na verdade, nosso país vai muito além dessas três palavras e é bem mais plural do que os extrangeiros imaginam. Agora, eu não posso negar que na minha última viagem, quando fui para Europa e me apresentava como brasileiro, muitos associavam e diziam: Brasil, Pelé. 

Essa ideia deles me fez entender a importância da Copa do Mundo de Futebol nas nossas vidas. Ainda somos os “reis da bola” e sentimos orgulho disso, mesmo que o sonho do “Hexa” esteja demorando. Ainda assim, resgato também para este artigo a alegria da música para celebrar esses campeonatos. A festa não pode parar então vamos relembrar as trilhas sonoras ligadas às copas e seus ilustres jogadores.

Legenda: Seleção Brasileira na Copa de 1954
Foto: Reprodução

Voltando no tempo, resgatando a primeira conquista dos nossos jogadores, “A Taça do Mundo é Nossa” marca a Copa de 1958 na Suécia. Composta por Wagner Maugeri, Lauro Müller, Victor Dagô e Maugeri Sobrinho. Outra que tem de ser lembrada é o “Frevo do Bi” em 1962, de Brás Marques e Diógenes Bezerra, interpretada por Jackson do Pandeiro daquela forma animada como de costume do veterano.

O Tricampeonato da seleção é emblemático devido a situação política do país e é preciso contextualizar. Em 1970, a nação estava no auge da Ditadura Militar e em um dos governos mais duros, o do Presidente Médici. O slogan era “Brasil, ame-o ou deixe-o” visava o incentivo para a aceitação deste sistema. No meio de tudo isso, nasce o “Pra Frente Brasil” para a Copa do México.

Composta por Raul de Souza e Miguel Gustavo, foi símbolo não só da seleção, mas se tornou propagando do Regime Ditatorial por muitos anos, não intencionalmente, mas o que prova o protagonismo das copas e da música em nossas vidas. O que era para ser um hino festivo, virou uma grande propaganda política do chamado “Milagre Econômico”.

Passamos alguns anos em abstinência de taças, mas em 1994 surge a “Coração Verde Amarelo” que primeiro foi composta pelo Tavito e refeita por ninguém menos que o nosso grande e imortal Aldir Blanc entrando para a história, principalmente reavivado pela Rede Globo. A letra é tão atemporal que atravessou quase uma década e foi cantada também na Copa de 2002 quando conquistamos o bendito Penta.

E os nossos ídolos? 

É, eu já falei dos hinos das copas, mas e as célebres letras que homenagearam nossos ídolos? Pois é, muitas foram feitas, mas vou destacar duas delas que, coincidentemente, retratam a dor de assistir os melhores se aposentando ou, pelo menos, não escalados.

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“Camisa 10”, composta por Hélio Matheus e Luís Vagner, foi sucesso na interpretação de Luiz Américo em 1973. É uma letra explícita soando como um recado para o técnico da seleção, até então Zagallo. A letra menciona muitos jogadores escalados para a copa de 1974 na Alemanha, mas lamentava a falta de um substituto para o Rei Pelé, que havia se aposentado dois anos antes. 

A canção já começava com um “ Desculpe seu Zagalo/ Mexe nesse time que tá muito fraco/ Levaram uma flecha, esqueceram o arco/ Botaram muito fogo e sopraram o furacão/ Que nem saiu do chão”. Mesmo com a crítica, terminava falando que tudo aquilo era em tom de brincadeira: “Espírito de humor, torcida brasileira/ A turma está sorrindo para não chorar, tá devagar” e Zagallo teve de engolir!

Na minha humilde opinião, uma das composições mais tristes e bonitas quando falamos em homenagens a astros dentro da música popular brasileira é a “Balada nº7”. Feita por Moacyr Franco, a letra lamenta a falta do nosso histórico Mané Garrincha nos gramados e exalta a dor da ausência de um dos ídolos do nosso esporte. 

“Hoje outros craques repetem as suas jogadas/ Ainda na rede balança seu último gol/ Mas pela vida impedido parou/ E para sempre o jogo acabou/ Suas pernas cansadas correram pro nada /E o time do tempo ganhou” lamentava em uma dedicatória merecida ao querido jogador das “pernas tortas que imortalizou um estilo de jogar futebol.

O Hexa vem!

Entre música e futebol, eu sempre prefiro a primeira, mas não posso esconder que em certos momentos as duas andam coladas e isso também é Brasil. Em quatro em quatro anos, enfeitamos as ruas, tiramos a camisa da seleção do armário, juntamos os vizinhos e vamos torcer para que a “taça seja nossa”

Ganhando ou perdendo, continuamos com o espírito de folia que aquece nossos corações e quem sabe o Hexa venha. Nessas horas todo mundo é técnico, faz sua escalação própria, xinga o juiz e fica de coração na mão se acontecer um jogo contra a Argentina, é clássico!

Vamos para uma das nossas épocas mais festivas e é válido chorar, sorrir, gritar e lembrar que viver é preciso. Tom Jobim e Luiz Bonfá estavam certos quando afirmam que “a felicidade do pobre parece/ A grande ilusão do carnaval/ A gente trabalha o ano inteiro/ Por um momento de sonho”. Talvez sejamos mesmo o país do carnaval, samba e futebol, mas vamos além…Repito, somos plurais e utópicos, até na hora de desejar o Hexa. Que comecem os jogos!

 


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