Hoje celebramos um dos atos mais simbólicos da vida humana. Dia 6 de Novembro é comemorado o dia nacional do Riso. Segundo especialistas, o ato de sorrir pode movimentar até oitenta músculos no corpo humano, o que mostra a relevância de um gesto facial tão simples…Aliás, sorrir é realmente fácil?
Charlie Chaplin em 1936 compôs a melodia “Sorri” para o filme “Tempos Modernos”. Em 1954, ela ganhou uma letra de John Turner e Geoffrey Parsons. No ano seguinte, João de Barro fez uma versão em português da canção que foi sucesso, porém, não podemos dizer que o sentimento em versos eram alegres, como o próprio espírito do eterno Carlitos.
“Sorrir, quando a dor te torturar/Quando a dor te torturar/ E a saudade atormentar/ Os teus dias tristonhos, vazios”, assim começa a interpretação que termina com os dramáticos dizeres: Sorri/ Vai mentindo a tua dor/ E ao notar que tu sorris/ Todo mundo irá supor/ Que és feliz”.
A música me faz pensar nessa contradição da alegria e da angústia, presente no nosso cancioneiro popular. As duas parecem andar juntas, feito agulha e linha, traduzindo o sentimento de muitos os sensíveis que abrem o seu coração para a intensidade que a vida nos proporciona.
Até um dos mais leves gêneros do nosso mercado fonográfico (e mais sofisticado) não separou o externo alegre do interno triste. No fim dos anos de 1950, Tom Jobim e Newton Mendonça criaram uma das mais perfeitas harmonias brasileiras. “Meditação”, foi gravada de Isaurinha Garcia a Frank Sinatra, em resumo, um sucesso no mundo todo.
A letra “Quem acreditou/ No amor, no sorriso, na flor/ Então sonhou, sonhou/ E perdeu a paz” não bastando viver o caos da dor de cotovelo e ainda complementa afirmando “Na solidão/ Procurou um caminho e seguiu/ Já descrente de um dia feliz". Vivemos assim, entre o riso e o desespero para poder sobreviver.
Anos depois, essa visão triste da alegria, ainda “Chapliniana”, que dominou nossos palhaços dos circos do século passado, fez Antônio Marcos incorporar um deles, e dizer que mesmo tendo a função de causar o riso, sofrem afirmando “que coisa incrível o meu coração/ todo pintado e nessa solidão/ Espera a hora de sonhar.
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Mesmo em nosso estilo mais genuíno e primário, o samba, o sorriso se confunde com a lágrima quando o carioca Cartola, vendo a mocidade perdida, pretende levar a vida a sorrir, nutrindo também a esperança que depois da tempestade, findará a saudade e um novo amor nascerá assim como o sol.
É, mas nem toda dor é aceita muito bem e outros sambistas, na sua fossa, já se humilharam pelo riso do amor. O cantor e compositor Nelson do Cavaquinho foi um deles que pediu para a sua amada: Tire o seu sorriso do caminho/ Que eu quero passar com a minha dor/ Hoje pra você eu sou espinho/ Espinho não machuca a flor.
Agora, este coração que tenta ter esperança de um dia ter tudo o que quer, sonha em viver a canção do Teatro Mágico e dizer “Menina, vou te guardar comigo, o teu sorriso eu vou deixar na estante para eu ter um dia melhor” e acreditar na que a comunhão da alegria com a paixão vai chegar. Afinal, como já cantam os Tribalistas em Velha infância, quero confessar: meu riso é tão feliz contigo!