Ciência pode ser feita ainda na educação básica?

O conhecimento científico pode ser produzido em outros espaços além das grandes universidades

Escrito por
Ítalo Henrique producaodiario@svm.com.br
Legenda: A produção de conhecimentos científicos permite que os jovens passem a relacionar o que aprendem na sala de aula com acontecimentos práticos
Foto: Pexels

Estamos acostumados a pensar em ciência apenas como algo das grandes universidades ou centros de pesquisa, em que cientistas com uma parede cheia de diplomas acadêmicos trabalham. No entanto, não é bem assim, a produção científica não está reservada apenas aos níveis mais altos da cátedra acadêmica, na verdade, ela pode ser feita ainda na educação básica: no ensino médio e nos anos finais do ensino fundamental - tendo a devida orientação.

“Mas, como assim?” Bom, para entender melhor é preciso iniciar compreendendo o que é “fazer ciência”. Fazer ciência, produzir conhecimento científico, é essencialmente fazer perguntas e ir em busca de respostas. E essas perguntas e as respostas a essas indagações devem seguir um método que chamamos de “método científico”. É ele que nos norteia na hora de iniciar uma pesquisa, desde a ideia da pesquisa até a escrita do manuscrito.

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De forma simplificada, esse método segue alguns princípios basilares: em que temos a observação de um dado fenômeno (seja social, biológico, ambiental, etc), a elaboração de uma hipótese, a experimentação, a análise dos resultados e a comprovação ou refutação da hipótese. E a partir de uma compreensão plena desse método pode-se “fazer ciência” em diferentes espaços educacionais, como o de uma escola de ensino médio pública, por exemplo.

Então, a resposta é: ciência pode sim ser feita ainda na educação básica! E ela pode abrir muitas portas e possibilidades para que os jovens estudantes possam sonhar uma carreira nas ciências e para que comecem a ter perspectivas de futuro desde cedo. Introduzir a produção do conhecimento científico na educação básica permite que os estudantes desenvolvam um pensamento crítico e científico para os acontecimentos a sua volta e como esses podem impactar as suas vidas, suas famílias, suas comunidades… 

Além disso, esse paralelo com a produção de conhecimentos científicos permite que os jovens passem a relacionar o que veem na sala de aula com acontecimentos práticos. Por exemplo, um grupo de estudantes que aprende estatística na aula de matemática e que conhece o método científico percebe que esse conhecimento estatístico pode ser utilizado para realizar um projeto de pesquisa que investiga porque os alunos da sua escola estão lendo menos.

E os resultados dessa pesquisa podem ser mostrados aos coordenadores pedagógicos da escola para que eles possam elaborar ações educativas que atraiam os jovens a leitura - e um artigo científico pode ser escrito e publicado para que outras escolas possam utilizar esses dados.

Com isso, utilizando o método científico, esses jovens aumentaram o seu conhecimento de estatística, desenvolveram um raciocínio crítico para identificar um problema e o porquê dele está ocorrendo, desenvolveram um projeto que impactou sua escola e com a publicação dos resultados ainda teriam a possibilidade de impactar outras escolas em sua comunidade. 

“Ah! mas esse exemplo é tão hipotético!” Na verdade, não é não! Pois isso aconteceu comigo e com outros jovens em uma escola pública estadual no interior do Ceará, mais precisamente em Jati na escola EEMTI Moisés Bento da Silva. Desenvolvemos um projeto de pesquisa que investigou porque uma amostra de alunos da terceira série (EM) estava sem interesse em ingressar no ensino superior.

Usamos a estatística que aprendemos em sala de aula, o raciocínio crítico aprendido nas aulas de sociologia e o projeto impactou a nossa escola (influenciou o desenvolvimento de ações para incentivar os alunos a ingressarem no ensino superior). Os resultados impactaram nossa comunidade quando foram apresentados no IV Congresso de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação da Universidade Federal do Cariri (CONPESQ). E isso foi possível, porque além do nosso esforço individual, tivemos apoio da nossa escola e dos nossos professores, que nos incentivaram e apoiaram ao longo de todo o processo.

Modéstia à parte, a educação do nosso Ceará é exemplo disso, pois temos iniciativas lindas como o Ceará Científico e o Ceará Faz Ciência para incentivar jovens da educação básica (no ensino médio e nos anos finais do ensino fundamental) a produzirem conhecimento científico e serem premiados por isso desde cedo! Por isso repito: sim, a ciência pode - e deve - ser feita desde cedo. 

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.