Exportações cearenses de têxteis crescem 21% em quantidade e 2,7% em valores; entenda cenário

Entre as hipóteses para essa discrepância entre a quantidade e o valor exportado estão a mudança cambial e a concorrência com produtos asiáticos

Legenda: Além do setor de têxteis, apenas os alimentos tiveram bons resultados nas exportações no primeiro trimestre de 2024 dentre as atividades destacadas pelo Observatório da Indústria
Foto: Divulgação

Puxadas pelo resultado negativo do setor de metalurgia, as exportações cearenses no primeiro trimestre de 2024 não tiveram resultados satisfatórios, se comparados ao primeiro trimestre de 2023. Em meio a poucas indústrias que apresentaram desempenho positivo no envio de mercadorias ao exterior, a têxtil foi uma das que teve destaque, com elevação de 21,1% na quantidade de vendas para o mercado externo.

Os dados são do Observatório da Indústria da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) e foram apresentados nesta semana.

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Apesar da elevação em quantidade, o valor exportado (US$) apresentou um avanço bem mais tímido: 2,7%. O professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e assessor econômico da Fiec, Lauro Chaves, compartilha algumas hipóteses para que tenha ocorrido essa discrepância no setor: variação cambial e concorrência com produtos asiáticos, levando a uma possível queda nos preços.

“Na parte de confecção, por exemplo, temos uma grande concorrência com a produção chinesa, então pode ser que esteja aumentando a quantidade, mas que o preço esteja sendo pressionado para baixo em função dessa concorrência”, avalia o economista. “O câmbio também sofreu redução nos últimos meses”, pontua.

Além do setor de têxteis, apenas os alimentos tiveram bons resultados nas exportações dentre as atividades destacadas pelo Observatório da Indústria. Apesar de terem caído em quantidade (-11,8), os envios do setor alimentício ao exterior tiveram incremento de 15,2% no valor exportado.

Internacionalização e diversificação

Lauro Chaves destaca que, para evitar que problemas em setores específicos - como a questão do aço ligada à China - ou empresas pontuais tenham um impacto tão robusto na pauta exportadora, é importante diversificá-la em negócios e em setores. 

“Internacionalizar e integrar a economia cearense à mundial, às grandes cadeias de valor, é fundamental para ampliar a nossa competitividade. Precisamos diversificar muito as nossas transações comerciais, porque a nossa pauta de exportação, hoje, é extremamente concentrada”.

“Com essa concentração, se você tem qualquer problema no mercado de aço, por exemplo, isso vai detonar as nossas exportações, porque a participação da Mittal Pecém (ArcelorMittal) é gigantesca na nossa pauta. Então, temos para o futuro, e isso se faz a médio e longo prazo, que diversificar a nossa pauta”, enfatiza Chaves.

Ele lembra que esse trabalho tem sido feito pelo Centro Internacional de Negócios da Fiec e também por outras entidades como a Associação Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) e, com enfoque nas pequenas e médias empresas, pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas (Sebrae). 

“O que é muito importante para a economia cearense é que temos o Complexo Industrial e Portuário do Pecém e a Zona de Processamento de Exportação, que podem ajudar a alavancar muito essa integração”, complementa o assessor econômico da Fiec.

Aço chinês e defesa comercial 

Se por um lado os têxteis, que não tem participação tão relevante nas exportações, apresentaram resultados positivos, a metalurgia, setor com maior representatividade na balança comercial cearense, apresentou forte queda no primeiro trimestre de 2024.

Na comparação com igual período de 2023, houve retração de 64,6% no valor e de 68,8% na quantidade, de acordo com os dados do Observatório da Indústria. O economista da Fiec, Guilherme Muchale, pontua que a situação é explicada pelo cenário externo.

"Já tem sido destaque na imprensa as questões relacionadas ao aço chinês", diz, detalhando que o comportamento do setor da construção civil na China tem feito com que sobre aço no mercado interno do país asiático. "Com isso, a China está levando esse aço que está sobrando dentro do seu mercado para o mercado externo".

Com isso, uma série de países passaram a adotar medidas de defesa comercial. "As medidas brasileiras tomadas recentemente vieram com meses de diferença das principais economias mundiais, o que se reflete no espaço que a nossa indústria siderúrgica, brasileira e cearense, teve para exportar os produtos", enfatiza Muchale.

Produção industrial

A produção da indústria de vestuário no Ceará (têxtil e confecção) cresceu 27,5% no primeiro trimestre de 2024 na comparação com igual período de 2023 - maior resultado entre as atividades industriais locais, também conforme o Observatório da Indústria.



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