Uma criança de cerca de seis anos estica o pescoço até onde o olhar alcança, de frente para um paredão de bonecas em uma loja do Centro de Fortaleza. Enquanto parece absorta, o mundo ao redor corre em um ritmo frenético: consumidores para lá e cá parecem não ter mãos suficientes para segurar tudo o que decidiram levar a poucos dias do Dia das Crianças.
Para os pequenos, é (ou pelo menos deveria ser) um dia com aura de magia. Para as lojas de variedades, uma oportunidade de faturar. Preocupados em não perder a ocasião, os empreendedores se reinventam: capricham nas parcerias com influenciadores no Instagram e TikTok, se dispõem a negociar preço e ofertam produtos para vários bolsos, com lembrancinhas por menos de R$ 1.
E parece que esse comércio no Centro está 'colhendo os louros'. Na Baratão Importados, na Rua São Paulo, as vendas triplicaram nesta véspera de Dia das Crianças em comparação com igual período do passado.
“Tem bolinhas de gel que crescem na água, de R$ 0,60; estalinho de R$ 0,85, ioiô de R$ 1,25, kit de carrinhos por R$ 10, com cada carrinho saindo a R$ 1”, diz Bruna Sales, vendedora.
E ela garante: os brinquedos mais tradicionais são os campeões de vendas. “A gente acha que as crianças não gostam, mas quando é apresentado, elas gostam bastante. “Pega-vareta já acabaram todos”, exemplifica.
O cenário é curioso, pois em tempos de comprar com apenas um toque nos market places e com brinquedos cada vez mais tecnológicos, o analógico se sobressai em duas vertentes: lojas físicas cheias de gente em busca de corda de pular, pega-varetas, bolas, bambolês e cubos mágicos.
Pesquisa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Ceará (Fecomércio-CE) captou parte desse fenômeno: oito em cada dez consumidores questionados farão as compras para o Dia das Crianças em espaços tradicionalmente físicos. A mesma pesquisa estima que a data movimentará R$ 285 milhões no comércio da Capital cearense.
Para a diretora institucional da Fecomércio-CE, Cláudia Brilhante, as pessoas costumam preferir comprar em lojas físicas quando se trata de produtos que requerem experimentação, como brinquedos "que as crianças gostam de tocar, testar".
"Levar as crianças para escolher os presentes é uma parte importante da experiência de compra, pois elas podem interagir diretamente com os produtos, o que aumenta a confiança na compra".
Ela acredita que, por outro lado, as vendas online tendem a ser mais fortes quando se trata de itens padronizados, em que os consumidores conhecem bem as características do produto.
"A conveniência de comprar de casa e a confiança em avaliações online também impulsionam essa preferência para produtos que não necessitam de um teste físico antes da compra".
"Essa distinção entre as experiências de compra ajuda a explicar porque os pontos físicos ainda são preferidos em certos casos, especialmente em datas como o Dia das Crianças, onde o envolvimento das crianças na escolha é um fator emocional importante", reforça Cláudia.
Na Tókio Importados, as mãos pequeninas tocam em todos os produtos possíveis, enquanto pais e mães perguntam aos vendedores sobre preços, cores disponíveis e outras informações relevantes para que adulto e criança saiam da loja satisfeitos dentro do orçamento possível.
As vendas cresceram 50% neste período antes do Dia das Crianças, se comparado a igual período de 2023, segundo a vendedora Mirtes Ferreira. Há opções de lembrancinha a partir de R$ 1,99, mas também brinquedos que ultrapassam uma ou duas centenas de reais, para vários gostos e bolsos.
"Nós temos as bolhas de sabão, que são o que mais saem e as pessoas compram muito em quantidade. Dependendo da quantidade, fica R$ 1,57. Temos carrinho de R$ 5,99 que dependendo da quantidade sai por R$ 3,90, conjunto de panelinhas de R$ 6,99 que sai por R$ 4,38. E assim a gente vai negociando preço, a gente busca fazer um trabalho que chame o cliente", afirma Mirtes.
Além das vendas no varejo, as vendas de brinquedos dessas lojas são impulsionadas pelo atacado com as compras para doação.
Há 30 anos no Centro de Fortaleza trabalhando com a venda de brinquedos, Eliane Barros, proprietária da JB Brinquedos, destaca que o movimento nesse sentido é intenso, apesar de ela ter notado as vendas um pouco menos aquecidas neste período em comparação com setembro e outubro do ano passado.
"Acho que ano de eleição é um pouco assim. E o brasileiro deixa tudo para a última hora".