Sob influência do mercado das emendas, mandato de deputado federal vai custar até R$ 30 milhões em 2026

Alvo de um impasse nacional entre os Três Poderes, as emendas parlamentares estão distorcendo o processo eleitoral brasileiro

Escrito por
Inácio Aguiar inacio.aguiar@svm.com.br
Legenda: Representação da população está sendo corroída por um processo político deturpado
Foto: Câmara dos Deputados

Nos bastidores da política cearense, a dois anos da eleição de 2026, já se intensificam as articulações para a disputa proporcional. Um dado, no entanto, chama a atenção e lança luz sobre uma grave distorção no processo político: o custo exorbitante do mandato de deputado federal. Fontes ouvidas pela coluna revelaram que o preço do mandato pode chegar a R$ 30 milhões, valor que reflete a influência direta das emendas parlamentares, em especial as chamadas “emendas pix”, as de relator e as de comissão. Esses instrumentos, embora em vigor, afrontam a Constituição e estão na mira do Supremo Tribunal Federal e de investigações da Polícia Federal por falta de transparência e pela abertura a práticas ilícitas.

O fenômeno da elevação do preço do voto não é novo, mas tem se aprofundado. Nos últimos anos, as emendas parlamentares ganharam protagonismo como moeda de troca política. Por meio delas, deputados federais têm à disposição volumosos recursos para distribuir entre municípios e, consequentemente, ampliar sua influência eleitoral. Só no orçamento de 2024, cada parlamentar teve direito a quase R$ 40 milhões em emendas. A forma como esses recursos têm sido utilizados – frequentemente atrelados a interesses pessoais – transformou as campanhas eleitorais em um verdadeiro mercado inflacionado, sobretudo por instrumentos pouco republicanos que também já estão na mira da Polícia Federal, inclusive no Ceará.

Controle financeiro do voto

A lógica é clara: quem controla as emendas, controla o voto, especialmente nas regiões mais carentes do Interior, onde prefeitos e lideranças locais dependem desses repasses para sobreviver politicamente. Esse mecanismo, longe de ser transparente, é um dos principais fatores que encarecem a disputa eleitoral. Parlamentares de mandato, já estabelecidos no sistema, utilizam as emendas como barganha. Por outro lado, novos candidatos, que não possuem o mesmo acesso, precisam competir por meio de investimentos financeiros vultosos, muitas vezes recorrendo a esquemas de caixa dois.

Fontes da coluna relatam que o volume de dinheiro movimentado nas campanhas de prefeitos no Ceará impressiona, alimentando uma rede de dependência e corrupção que se estende até Brasília.

O impacto desse processo é corrosivo. Primeiro, porque transforma o mandato de deputado federal em um ativo financeiro, distanciando-o do seu papel institucional de representar os interesses da população. Segundo, porque torna o processo eleitoral ainda mais suscetível ao poder econômico, eliminando ou enfraquecendo candidatos com menor capacidade financeira e, consequentemente, reduzindo a competitividade democrática.

Como resultado, o sistema político se torna refém de práticas questionáveis, perpetuando a influência de grupos econômicos e alimentando a percepção de que política e corrupção andam lado a lado.